domingo, 18 de janeiro de 2015

A Pirâmide Vermelha - Carter

Capítulo 17 - Uma péssima viagem a Paris

TUDO BEM, ANTES DE CHEGAR aos morcegos de frutas demônios, acho que preciso voltar um pouco.
Na noite que antecedeu nossa fuga de Luxor, eu não dormi muito – primeiro por causa de uma experiência fora do corpo, depois porque encontrei Zia.
[Pare de rir, Sadie. Não foi um encontro bom.]
Depois que as luzes se apagaram, tentei dormir. Juro. Até usei aquele estúpido apoio mágico de cabeça que eles me deram como travesseiro, mas não funcionou. Assim que consegui fechar os olhos, meu ba decidiu dar uma voltinha.
Como antes, eu me senti flutuando acima de meu corpo, tomando uma forma alada. Então, a corrente do Duat soprou a uma velocidade vertiginosa. Quando minha visão clareou, descobri que estava em uma caverna escura. Tio Amós caminhava por ela, guiando-se pela luz azul pálida que tremulava no topo de seu cajado. Eu quis chamá-lo, mas minha voz não saía. Não sei como era possível que ele não me visse flutuando, a um metro, naquela forma de galinha brilhante. Mas aparentemente eu era invisível para ele.
Ele deu um passo à frente, e o chão a seus pés se iluminou repentinamente, formando o desenho de um hieróglifo vermelho. Amós gritou, mas sua boca ficou paralisada, semiaberta. Espirais de luz rodearam suas pernas como plantas trepadeiras. Logo ele estava completamente envolvido por fios vermelhos e parecia petrificado, olhando fixamente para a frente, sem piscar.
Tentei voar até ele, mas eu estava paralisado, flutuando, sem poder fazer nada a não ser observar.
Uma risada ecoou pela caverna. Uma horda de coisas emergiu da escuridão: criaturas que eram como sapos, demônios com cabeça de animais e monstros ainda mais estranhos, meio encobertos pela penumbra. Tinham se escondido para a emboscada, eu percebi – esperando por Amós. Diante deles, surgiu uma silhueta de fogo: Set. Mas sua forma agora era muito mais clara, e dessa vez não era humana. Seu corpo era emaciado, magro e negro, e a cabeça era a de um animal feroz.
— Bonsoir, Amós — cumprimentou Set. — Quanta gentileza ter vindo. Vamos nos divertir muito!
Eu me sentei na cama sobressaltado, de volta a meu corpo, com o coração disparado.
Amós havia sido capturado. Eu tinha certeza disso. E pior ainda... Set soubera de alguma forma que Amós iria até lá. Pensei em algo que Bastet dissera, sobre como os serpopardos haviam invadido a mansão. Ela dissera que as defesas haviam sido sabotadas, e que só um mago da Casa poderia ter feito tal coisa. Uma suspeita horrível começou a borbulhar dentro de mim.
Olhei para a escuridão por um longo tempo, ouvindo a criança pequena a meu lado resmungar encantamentos enquanto dormia. Quando não consegui mais me conter, abri a porta com a força do pensamento, como havia feito na casa de Amós, e saí.
Estava vagando pelo mercado vazio, pensando em papai e em Amós, revendo mentalmente os eventos, tentando determinar o que eu poderia ter feito de diferente para salvá-los, quando avistei Zia. Ela corria pelo pátio como se alguém a perseguisse, mas o que realmente chamou minha atenção foi a nuvem negra que cintilava em volta dela, como se alguém a tivesse envolvido numa sombra brilhante. Ela se aproximou de um trecho branco da muralha e moveu a mão. De repente, uma porta se abriu. Zia olhou para trás antes de atravessá-la.
É claro que eu a segui.
Aproximei-me da porta sem fazer barulho. Podia ouvir a voz dela lá dentro, mas não conseguia entender o que dizia. Então, a porta começou a se solidificar, voltando a ser parte da muralha, e eu tomei uma decisão rápida: saltei através dela.
Lá dentro, Zia estava sozinha e de costas para mim. Estava ajoelhada diante de um altar de pedra, entoando um cântico em voz baixa. As paredes eram decoradas com desenhos do Egito Antigo e fotografias modernas.
A sombra brilhante já não a cercava mais, porém algo ainda mais estranho estava acontecendo. Eu planejara contar a Zia meu pesadelo, mas nem me lembrava mais disso. Não quando vi o que ela fazia. Zia unia as mãos, as palmas posicionadas como se segurassem um pássaro, e uma esfera azul e brilhante apareceu, mais ou menos do tamanho de uma bola de golfe. Ainda cantando, ela ergueu as mãos. A esfera flutuou para o alto, na direção do teto, e desapareceu.
O instinto me dizia que eu não devia estar vendo aquilo.
Pensei em sair dali. Só havia um problema: a porta desaparecera. Não havia outra. Era só uma questão de tempo antes de... O-oh.
Talvez eu tivesse feito algum barulho. Talvez seus sentidos mágicos a tivessem prevenido. Mas, antes que eu pudesse reagir, Zia empunhou a varinha e se virou para mim, e chamas tremulavam contornando o bumerangue.
— Oi — eu disse, nervoso.
A expressão dela passou da fúria à surpresa, depois voltou à fúria.
— Carter, o que está fazendo aqui?
— Só dando uma volta. Vi você no pátio, e daí...
— Como assim, você me viu?
— Bem... você estava correndo, e estava cercada por aquela coisa preta, e...
— Você viu isso? Impossível.
— Por quê? O que era aquilo?
Ela baixou a mão e o fogo se apagou.
— Não gosto de ser seguida, Carter.
— Desculpe. Achei que pudesse estar com problemas.
Ela abriu a boca para dizer algo, mas mudou de ideia.
— Problemas... sim, isso é verdade.
Ela se sentou de um jeito pesado e suspirou. À luz das velas, seus olhos cor de âmbar pareciam escuros e tristes. Zia olhou para as fotos atrás do altar e percebi que ela aparecia em algumas delas. Em um dos retratos, ela era uma menina pequena e descalça que estava em pé do lado de fora de uma casa de tijolos. Olhava de cara feia para a câmera, como se não quisesse ser fotografada.
A foto ao lado era maior e mostrava um vilarejo inteiro no Nilo – o tipo de lugar que meu pai me levava para visitar de vez em quando, onde nada mudara muito nos últimos dois mil anos. Vários habitantes sorriam e acenavam para a câmera, como se celebrassem algo, e acima deles a pequena Zia podia ser vista empoleirada nos ombros de um homem, que devia ser seu pai.
Outro retrato era tipicamente familiar: Zia de mãos dadas com o pai e a mãe. Eles poderiam ser uma família felá qualquer em um lugar qualquer do Egito, mas o pai dela tinha olhos especialmente bondosos, brilhantes – pensei que ele devia ter ótimo senso de humor. O rosto da mãe de Zia não era coberto por véu, e ela ria como se o marido tivesse contado uma piada.
— Seus pais parecem ser legais — comentei. — Aquela é sua casa?
Zia parecia prestes a ficar nervosa, mas manteve as emoções sob controle. Ou talvez não tivesse energia para se zangar.
— Aquela era minha casa. O vilarejo não existe mais.
Esperei, sem saber se tinha coragem de perguntar. Nós nos entreolhamos e percebi que ela estava tentando decidir quanto devia me contar.
— Meu pai era fazendeiro — revelou — mas também trabalhava para arqueólogos. No tempo livre, vasculhava o deserto em busca de artefatos e novos sítios que pudessem ser escavados.
Eu assenti. O que Zia estava descrevendo era muito comum. Havia séculos os egípcios ganhavam dinheiro extra com esse tipo de atividade.
— Uma noite, quando eu tinha oito anos, meu pai encontrou uma estátua — prosseguiu ela. — Pequena, mas muito rara: a estátua de um monstro, esculpida em pedra vermelha. Havia sido enterrada em um fosso com várias outras, todas quebradas. Mas, de alguma forma, aquela estava intacta. Ele a levou para casa. Não sabia... meu pai não sabia que os magos aprisionam monstros e espíritos dentro dessas estátuas e que as quebram para destruir sua essência. Ele levou a estátua intacta para nosso vilarejo e... sem querer, libertou...
A voz dela falhou. Ela olhou para a foto do pai sorrindo e segurando sua mão.
— Zia, sinto muito.
Suas sobrancelhas se uniram.
— Iskandar me encontrou. Ele e os outros magos destruíram o monstro... mas não a tempo. Encontraram-me encolhida em um buraco para fogueira, sob a vegetação, que minha mãe usou para me esconder. Só eu sobrevivi.
Tentei imaginar a aparência de Zia quando Iskandar a encontrara: uma menina pequena que havia perdido tudo, sozinha nas ruínas de seu vilarejo. Era difícil imaginá-la desse jeito.
— Então, esta sala é um altar para sua família — supus. — Vem aqui para se lembrar deles.
Zia me olhou com a expressão vazia.
— Esse é o problema, Carter. Eu não consigo lembrar. Iskandar me conta meu passado. Ele me deu essas fotografias, explicou o que aconteceu. Mas... não tenho qualquer lembrança.
Eu ia dizer que ela só tinha oito anos. Então, percebi que eu tinha essa idade quando minha mãe morreu, quando Sadie e eu fomos separados. E me lembro de tudo com clareza. Ainda posso ver nossa casa em Los Angeles, e como as estrelas brilhavam à noite sobre a varanda dos fundos, de onde víamos o mar. Meu pai costumava nos contar histórias fantásticas sobre as constelações. E, todas as noites, antes de irmos para a cama, Sadie e eu nos aninhávamos com mamãe no sofá, disputando a atenção dela, que nos dizia para não acreditar nas histórias de papai. Mamãe explicava a ciência por trás das estrelas, falava sobre física e química, como se fôssemos seus alunos na faculdade. Pensando nisso agora, eu me pergunto se ela estava tentando nos prevenir: Não acreditem naqueles deuses e mitos. Eles são perigosos demais.
Lembrei-me de nossa última viagem a Londres, ainda uma família, de como mamãe e papai pareciam nervosos no avião. Lembrei-me de nosso pai voltando da casa de nossos avós depois da morte de mamãe e nos dizendo que havia acontecido um acidente. Antes mesmo de ele explicar, entendi que era grave, porque nunca tinha visto meu pai chorando antes.
Os pequenos detalhes que haviam se perdido me deixavam maluco: o cheiro do perfume de minha mãe ou o som da voz dela. Quanto mais velho ficava, mais me apegava a esses pormenores. Não conseguia imaginar como seria não lembrar nada. Como Zia conseguia suportar?
— Talvez... — tentei encontrar as palavras corretas. — Talvez você só...
Ela levantou a mão.
— Carter, acredite em mim. Eu tentei lembrar. É inútil. Iskandar é a única família que já tive.
— E os amigos?
Zia me olhou como se eu tivesse usado uma palavra de um idioma desconhecido. Percebi que não vira ninguém da nossa idade no Primeiro Nomo. Todos eram muito mais novos ou muito mais velhos.
— Não tenho tempo para amigos — respondeu ela. — Além do mais, quando os iniciados completam treze anos, são transferidos para outros nomos pelo mundo. Só eu continuo aqui. Gosto de ficar sozinha. É bom.
Senti um arrepio na nuca. Eu tinha dado a mesma resposta, muitas vezes, quando as pessoas me perguntavam como era estudar em casa com meu pai. Eu não sentia falta de ter amigos? Não queria uma vida normal?
“Eu gosto de ficar sozinho. É bom.”
Tentei imaginar Zia frequentando um colégio regular, aprendendo a combinação de um armário, passando tempo na cantina. Era impossível. Deduzi que ela ficaria tão perdida quanto eu.
— Vou dizer uma coisa — falei. — Depois do teste, depois dos Dias do Demônio, quando tudo se acalmar...
— As coisas não vão se acalmar.
— ... vou levar você ao shopping.
Ela piscou.
— Ao shopping? Por quê?
— Por nada. Para passear. Vamos comer um hambúrguer, assistir a um filme no cinema.
Zia hesitou.
— Isso é o que você chamaria de um “encontro”?
Minha expressão deve ter sido impagável, porque Zia sorriu.
— Você parece uma vaca que apanhou com uma pá.
— Eu não quis... só queria...
Ela riu, e de repente ficou mais fácil imaginá-la como uma aluna comum.
— Vou esperar ansiosamente por esse shopping, Carter — disse ela. — Você é uma pessoa muito interessante... ou muito perigosa.
— Vamos ficar com interessante.
Zia moveu a mão e a porta reapareceu.
— Agora vá. E tome cuidado. Na próxima vez que me espionar, poderá não ter tanta sorte.
Eu já estava na porta quando me virei.
— Zia, o que era aquela nuvem preta e brilhante?
O sorriso desapareceu.
— Um encantamento de invisibilidade. Só magos muito poderosos conseguem enxergar através dele. Você não devia ter conseguido.
Ela me encarou, esperando respostas, mas eu não tinha nenhuma.
— Talvez o encanto tenha... se esgotado ou algo parecido — sugeri. — E a esfera azul?
Ela franziu a testa.
— A o quê?
— Aquela coisa que você soltou e que subiu até o teto.
Ela parecia confusa.
— Eu... não sei do que está falando. Talvez a luz das velas tenha criado alguma ilusão.
Silêncio desconfortável. Ou ela estava mentindo para mim, ou eu estava ficando maluco, ou... não sei. Percebi que não falara com ela sobre minha visão de Amós e Set, mas senti que já tinha ido longe demais para apenas uma noite.
— Tudo bem. Boa-noite.
Voltei ao dormitório, mas demorei muito para voltar a dormir.
Avanço rápido para Luxor. Talvez agora você entenda por que eu não queria deixar Zia para trás, e por que não acreditava que ela pudesse nos fazer mal.
Por outro lado, sabia que ela não estava mentindo sobre Desjardins. Aquele cara não ia pensar duas vezes antes de nos transformar em escargots. E o fato de Set ter falado francês em meu sonho – “Bonsoir, Amós”. Havia sido só coincidência... ou algo muitopior estava acontecendo?
De qualquer maneira, quando Sadie me puxou pelo braço, eu a segui.
Corremos para fora do templo e seguimos até o obelisco. Mas, naturalmente, não foi tão simples. Éramos a família Kane. Nada conosco é simples.
Quando chegamos lá, ouvi o som de um portal mágico se abrindo. Cerca de uns noventa metros adiante, um mago careca vestindo túnica branca saiu de um turbilhão de areia.
— Depressa — eu disse a Sadie. Peguei a vara-cajado em minha bolsa e a joguei para minha irmã. — Como cortei a sua ao meio, use esta. Eu fico com a espada.
— Mas eu não sei o que estou fazendo! — protestou ela, examinando a base do obelisco, como se esperasse encontrar um interruptor secreto.
O mago recuperou o equilíbrio e cuspiu a areia que entrara em sua boca. E foi então que ele nos viu.
— Parem!
— Sim — murmurei. — Vou parar mesmo!
— Paris — Sadie cochichou para mim. — Você disse que o outro obelisco fica em Paris, certo?
— Certo. Hum, não quero apressar você, mas...
O mago ergueu seu cajado e começou a recitar.
Eu toquei o cabo da espada. Minhas pernas pareciam estar virando manteiga. Seria possível invocar aquele guerreiro falcão outra vez? Tinha sido legal, mas era só um duelo. E o teste na ponte, quando desviei aquelas adagas – aquilo não parecia ter sidoeu. Até então, toda vez que empunhara aquela espada, havia tido alguma ajuda: Zia estivera por perto, ou Bastet. Eu jamais estivera completamente sozinho. Dessa vez, era só eu. Era loucura pensar que eu poderia enfrentar um mago experiente. Eu não era um guerreiro. Tinha aprendido em livros tudo o que sabia sobre espadas – a história de Alexandre, o Grande, Os três mosqueteiros – como se isso pudesse ajudar! Com Sadie ocupada no obelisco, eu estava sozinho.
Não está, disse uma voz dentro de minha cabeça.
Ótimo, penseiEstou sozinho e ficando maluco.
Do outro lado da avenida, o mágico disse em voz alta:
— Sirva a Casa da Vida!
Mas eu tinha a sensação de que ele não estava falando comigo.
O ar entre nós começou a tremular. Ondas de calor brotavam das esfinges, dando a impressão de que elas se moviam. Então, eu percebi que estavam se movendo. Cada uma delas rachou ao meio, e aparições fantasmagóricas surgiram da pedra, como borboletas deixando seus casulos. Nem todas estavam em boa forma. As criaturas espirituais saíam das estátuas quebradas sem cabeça ou sem os pés. Algumas mancavam em três patas. Pelo menos uma dúzia de esfinges estava em perfeitas condições, e todas vinham em nossa direção – cada uma do tamanho de um dobermann, feita de fumaça branca como leite e vapor quente. E eu que tinha pensado que as esfinges estavam do nosso lado.
— Depressa! — falei para Sadie.
— Paris! — anunciou ela, erguendo o cajado e a varinha. — Quero ir para lá agora. Duas passagens. Primeira classe seria ótimo!
As esfinges avançavam. A que estava mais próxima se atirou sobre mim, e por pura sorte consegui cortá-la ao meio. O monstro evaporou em fumaça, mas emitiu uma explosão de calor tão intensa que tive a sensação de que meu rosto ia derreter.
Mais dois fantasmas de esfinge se lançaram sobre mim. Havia mais uma dúzia alguns passos atrás delas. Eu sentia a veia pulsando no pescoço.
De repente, o chão tremeu. O céu escureceu, e Sadie gritou:
— Isso!
O obelisco brilhou com uma luz roxa, vibrando com a força dessa energia. Sadie tocou a pedra e gritou. Ela foi sugada para dentro e desapareceu.
— Sadie! — berrei.
Nesse momento de distração, mais duas esfinges atacaram, derrubando-me no chão. Minha espada escapou. Minhas costelas fizeram crac e meu peito explodiu em dor. O calor emanado das criaturas era insuportável – era como ser esmagado por um forno quente.
Estendi a mão para o obelisco. Só mais alguns centímetros. Eu podia ouvir as outras esfinges se aproximando e o mago recitando:
— Segurem-no! Segurem-no!
Com a pouca força que me restava, inclinei-me para o obelisco, sentindo todos os nervos de meu corpo gritando de dor. Meus dedos tocaram a base e o mundo ficou preto.
De repente, eu estava deitado na pedra fria e molhada. Estava no meio de uma grande praça pública. Chovia muito e o ar gelado me dizia que eu não estava mais no Egito. Sadie estava perto de mim, gritando apavorada.
A má notícia: eu tinha levado duas esfinges comigo. Uma delas saltou de cima de mim e se aproximava de Sadie. A outra continuava em meu peito, olhando-me, as costas emanando vapor de chuva, os olhos brancos e leitosos bem perto de meu rosto.
Tentei lembrar a palavra egípcia para fogo. Se eu pudesse incendiar o monstro, talvez... mas minha mente estava dominada pelo pânico. Ouvi uma explosão do meu lado direito, na direção em que Sadie correra. Esperava que ela tivesse conseguido fugir, mas não tinha certeza.
A esfinge abriu a boca e formou presas de fumaça que nada tinham a ver com reis do Egito Antigo. Preparava-se para morder meu rosto quando uma forma escura surgiu atrás dela e gritou:
— Mangez des muffins! Corte!
A esfinge se dissolveu em fumaça.
Tentei me levantar, mas não consegui. Sadie se aproximou cambaleando.
— Carter! Você está bem?
Eu pisquei para a outra pessoa – aquela que me salvara: uma figura alta e esguia, em uma capa de chuva preta com capuz. O que ela tinha gritado era “Comer muffins”? Que tipo de grito de guerra era esse?
A figura tirou o casaco e surgiu, então, uma mulher vestindo malha de acrobata com estampa de pele de leopardo, sorrindo para mim, mostrando as presas e os olhos amarelos, que brilhavam como lâmpadas.
— Sentiu minha falta? — perguntou Bastet.

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