sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Feliz Halloween!

Apesar das Dias das Bruxas não ser muito celebrada no Brasil, quero desejar um Feliz Halloween para todos os bruxos e bruxas que acompanham o blog!



O Herói Perdido - Jason

Capítulo LXI - Jason

O CONSELHO NÃO ERA NADA DO QUE Jason imaginara. Em primeiro lugar, acontecia na sala de recreação da Casa Grande, em volta de uma mesa de pingue-pongue, com um dos sátiros servindo nachos e refrigerantes. Em segundo, alguém trouxe a cabeça do leopardo Seymour da sala de estar e o pendurara na parede. De vez em quando, um conselheiro jogava um biscoito para ele.
Jason olhou em torno da sala e tentou lembrar o nome de todos.
Felizmente, Leo e Piper estavam sentados perto dele  era a primeira reunião deles como conselheiros seniores. Clarisse, a líder do chalé de Ares, estava com as botas na mesa, mas ninguém parecia se importar. Clovis, de Hipnos, estava roncando no canto enquanto Butch do chalé de Íris estava vendo quantas canetas podia colocar nas narinas dele. Travis Stoll, de Hermes, estava segurando um isqueiro sob uma bola de pingue-pongue para ver se ela iria queimar, e Will Solace, de Apolo, estava distraidamente cobrindo e descobrindo o pulso com uma bandagem. A conselheira do chalé de Hécate, Lou Ellen, ou algo parecido, estava brincando de “peguei o seu nariz” com Miranda Gardiner, de Deméter, embora Lou Ellen estivesse realmente desconectando magicamente o nariz de Miranda, e ela estava tentando pegá-lo de volta.
Jason esperara que Thalia aparecesse. Ela prometera, afinal. Mas não estava a vista. Quíron disse a ele para não se preocupar. Thalia geralmente ficava fora lutando com monstros ou em missões para Ártemis, e provavelmente chegaria logo. Mas ainda assim, Jason se preocupou.
Rachel Dare, o oráculo, se sentava perto de Quíron na ponta da mesa. Ela estava usando seu vestido-uniforme da Clarion Academy, o que parecia um pouco estranho, mas sorriu para Jason.
Annabeth não parecia tão relaxada. Ela usava uma armadura sobre suas roupas do acampamento, com sua faca na cintura e seu cabelo loiro amarrado num rabo de cavalo. Assim que Jason entrou, ela fixou um olhar de expectativa para ele, como se estivesse tentando extrair informações dele com seu olhar.
— Voltemos a ordem — disse Quíron. — Lou Ellen, por favor devolva o nariz de Miranda. Travis, caso possa, apague essa bola flamejante, e Butch, acho que vinte canetas é bastante para qualquer nariz humano. Obrigado. Agora, como podem ver, Jason, Piper e Leo retornaram com sucesso... mais ou menos. Alguns de vocês ouviram partes das histórias deles, mas vou deixar eles lhe informarem.
Todos olharam para Jason. Ele limpou a garganta e começou a história. Piper e Leo interrompiam de tempos em tempos, informando os detalhes que ele esquecia. Só levou alguns minutos, mas pareceu muito mais com todos os observando. O silêncio era forte, e para tantos semideuses com TDAH se sentarem ouvindo por tanto tempo, Jason sabia que a história deveria ter soado bastante selvagem. Ele finalizou com a visita de Hera logo antes da reunião.
— Então Hera esteve aqui — disse Annabeth. — Conversando com você.
Jason assentiu.
— Olhem, não estou dizendo que confio nela...
— Isso é inteligente da sua parte — disse Annabeth.
— ...mas ela não está inventando isso sobre outro grupo de semideuses. É de onde eu vim.
— Romanos — Clarisse jogou um biscoito para Seymour. — Você espera que acreditemos que há outro acampamento para semideuses, mas eles seguem as formas romanas dos deuses. E nunca ouvimos falar deles.
Piper se sentou mais para frente.
— Os deuses mantiveram os dois grupos separados, porque toda a vez que se encontravam, tentavam se matar.
— Posso entender isso — disse Clarisse. — Ainda assim, por que nunca cruzamos uns com os outros em missões?
— Ah, sim — disse Quíron tristemente. — Vocês se encontraram, e várias vezes. Foi sempre uma tragédia. Os deuses sempre fazem o melhor para limpar as memórias dos envolvidos. A rivalidade começou na Guerra de Troia, Clarisse. Os gregos invadiram Troia e queimaram tudo. O herói troiano Eneias escapou, e em algum momento foi para a Itália, onde fundou o que depois se tornaria Roma. Os romanos ficaram cada vez mais poderosos, idolatrando os mesmos deuses, mas sob nomes diferentes, e personalidades um tanto distintas.
— Mais militares — disse Jason. — Mais unidos. Mais ligados à expansão, conquista e disciplina.
— Eca — colocou Travis.
Vários deles pareceram igualmente desconfortáveis, porém Clarisse deu de ombros como se parecesse tudo bem para ela.
Annabeth girou sua faca na mesa.
— E os romanos odiavam os gregos. Eles conseguiram sua revanche quando conquistaram as ilhas gregas, e as tornaram parte do Império Romano.
— Não exatamente odiavam eles — Jason corrigiu. — Os romanos admiravam a cultura grega, e eram um pouco ciumentos. Em troca, os gregos pensaram que os romanos eram bárbaros, mas respeitaram seu poder militar. Então durante os tempos romanos, semideuses começaram a se dividir... entre gregos ou romanos.
— E foi assim desde então — supôs Annabeth. — Mas isso é loucura. Quíron, onde estavam os romanos durante a Guerra dos Titãs? Por que não ajudaram?
Quíron puxou sua barba.
— Eles ajudaram, Annabeth. Enquanto você e Percy estavam liderando a batalha para salvar Manhattan, quem você acha que conquistou o Monte Otris, a base dos titãs na Califórnia?
— Espere — disse Travis. — Você disse que o Monte Otris ruiu quando derrotamos Cronos.
— Não — Jason interviu.
Ele se lembrou de lampejos da batalha. Lembrou-se de um gigante com armadura estrelada e um elmo com chifres de carneiro. Ele se lembrou do seu exército de semideuses escalando o Monte Tam, lutando com hordas de monstros em forma de cobra.
— Ele não ruiu simplesmente. Destruímos o palácio deles. Eu venci o titã Crio sozinho.
Os olhos de Annabeth estavam mais tempestuosos que um ventus. Jason quase pôde ver seus pensamentos se agitando, encaixando as peças.
— Bay Area. Nós, semideuses, sempre fomos avisados para ficar longe porque o Monte Otris ficava por lá. Mas esse não era o único motivo, era? O acampamento romano... tem que estar em algum lugar perto de São Francisco. Aposto que foi posto lá para ficar de patrulha no território dos titãs. Onde ele fica?
Quíron se deslocou na sua cadeira de rodas.
— Não posso dizer. Nem mesmo tenho essa informação. Minha correlativa, Lupa, não é exatamente do tipo que compartilha coisas. E a memória de Jason também foi apagada.
— O acampamento fica sobre um grande véu de magia — disse Jason. — E fortemente guardado. Poderíamos procurar por anos e nunca encontrá-lo.
Rachel Dare juntou as mãos e entrelaçou os dedos. De todas as pessoas na sala, apenas ela não parecia nervosa com a conversa.
— Mas vocês tentarão, não tentarão? Irão construir o navio de Leo, o Argo II. E antes de irem à Grécia, navegarão para o acampamento romano. Precisarão da ajuda deles para confrontar os gigantes.
— Péssimo plano — avisou Clarisse. — Se aqueles romanos virem um navio de guerra chegando, assumirão que estamos atacando.
— Você provavelmente tem razão — concordou Jason. — Mas temos de tentar. Fui mandado aqui para aprender sobre o Acampamento Meio-Sangue, tentar convencer vocês que os dois acampamentos não tem que ser inimigos. Uma oferta de paz.
— Humm — disse Rachel. — Por isso que Hera está tão convencida de que os dois acampamentos precisam trabalhar juntos para ganhar a guerra contra os gigantes. Sete heróis do Olimpo... alguns gregos, alguns romanos.
Annabeth assentiu.
— Sua Grande Profecia... qual é a ultima linha?
— E inimigos com armas às Portas da Morte afinal.
— Gaia abriu as Portas da Morte — disse Annabeth. — Ela está soltando os piores vilões do Mundo Inferior para lutar conosco. Medeia, Midas... haverá mais, tenho certeza. Talvez o verso signifique que os semideuses romanos e gregos se unirão, encontrarão as portas e as fecharão.
— Ou pode significar que eles lutam uns com os outros nas Portas da Morte — lembrou Clarisse. — Não diz se cooperamos.
Houve silêncio enquanto os pensavam no tema, preferindo a versão positiva.
— Eu vou — disse Annabeth. — Jason, quando construírem esse navio, eu vou com vocês.
— Estava esperando você se oferecer — Jason concordou. — De todas as pessoas, é de você que vamos precisar mais.
— Espere — Leo franziu o cenho. — Digo, por mim tudo bem, é claro. Mas por que Annabeth?
Annabeth e Jason estudaram um ao outro, e Jason sabia que ela unira os fatos. Ela enxergou a perigosa verdade.
— Hera disse que minha chegada aqui significava uma troca de líderes — Jason explicou. — Um modo para os dois acampamentos saberem da existência do outro.
— Sim... — disse Leo. — Mais e daí?
— Uma troca é uma via de mão dupla — Jason completou. — Quando cheguei aqui, minha memória foi apagada. Eu não sabia quem era ou de onde vinha. Felizmente, vocês me trouxeram aqui e eu encontrei um novo lar. Sei que não são meus inimigos. Mas o acampamento romano... eles não são tão amigáveis. Lá, quem não prova o seu valor rapidamente... não sobrevive. Talvez não sejam tão gentis com ele, e se descobrirem de onde ele vem, ele estará em sérios problemas.
— Ele? — Leo disse. — De quem você está falando?
— Do meu namorado — Annabeth respondeu, com uma expressão triste. — Ele desapareceu mais ou menos na mesma época em que Jason apareceu. Se Jason veio ao Acampamento Meio-Sangue...
— Exatamente — concordou Jason. — Percy Jackson está no outro acampamento e, assim como eu, provavelmente nem se lembra de quem é.

O Herói Perdido - Jason

Capítulo LX - Jason

JASON ESPEROU SOZINHO NO CHALÉ 1.
Annabeth e Rachel chegariam a qualquer minuto para a reunião dos conselheiros-chefe, e Jason precisava de tempo para pensar.
Seus sonhos na noite passada foram tão ruins que ele não queria compartilhá-los... nem com Piper. Sua memória ainda estava nebulosa, mas pequenas memórias estavam voltando. A noite que Lupa o testara na Casa do Lobo, para decidir se ele seria um pupilo ou alimento para os demais. Depois, a longa viagem ao sul para... Ele não conseguia lembrar, mas tinha lampejos da sua antiga vida. O dia que ele conseguiu sua tatuagem. O dia que foi erguido num escudo e proclamado pretor. O rosto dos seus amigos: Dakota, Gwendolyn, Hazel, Bobby. E Reyna. Definitivamente havia uma garota chamada Reyna. Ele não tinha certeza do que ela significava para ele, mas a memória o fez se questionar sobre o que sentia por Piper, e quis saber se estava fazendo algo errado. O problema era que ele gostava muito de Piper.
Jason levou suas coisas para a alcova onde sua irmã uma vez dormira. Ele colocou a fotografia de Thalia de volta na parede para que não se sentisse sozinho. Olhou para a estátua carrancuda de Zeus, poderoso e orgulhoso, mas a estatua não o assustava mais. Ela só o fazia se sentir triste.
— Eu sei que pode me ouvir — Jason disse para a estátua.
A estatua não disse nada. Seus olhos pintados pareciam olhar para Jason.
— Eu queria poder conversar com o senhor pessoalmente — Jason continuou — mas entendo que não possa fazer isso. Os deuses romanos não gostam de interagir muito com mortais e... bem, o senhor é o rei. Tem que dar o exemplo.
Mais silêncio. Jason esperou por alguma coisa... um trovão mais retumbante que o normal, uma luz forte, um sorriso. Não, esqueça. Um sorriso teria sido assustador.
— Lembro-me de algumas coisas — disse.
Quanto mais falava, menos ele se sentia constrangido.
— Eu lembro que é difícil ser um filho de Júpiter. Todos estão sempre olhando para mim esperando que eu seja um líder, mas sempre me sinto sozinho. Imagino que o senhor sinta o mesmo aí em cima, no Olimpo. Os outros deuses questionam suas decisões. Às vezes o senhor tem que fazer escolhas difíceis, e os outros o criticam. O senhor não pode vir ao meu auxílio como os outros deuses fazem. Tem que manter distância para que não pareça que está escolhendo favoritos. Acho que eu só queria dizer...
Jason respirou profundamente.
— Eu entendo tudo isso. Está tudo bem. Vou tentar fazer o meu melhor. Vou deixar-lhe orgulhoso. Mas algum apoio seria realmente bom, pai. Se há algo que posso fazer... me ajude a ajudar meus amigos. Tenho medo de levá-los à morte. Eu não sei como protegê-los.
A nuca de Jason ficou arrepiada. Ele percebeu que alguém estava de pé atrás dele. Se virou e encontrou uma mulher vestindo túnica negra, com uma capa de pele de cabra sobre os ombros e uma espada romana embainhada  um gladius  nas mãos.
— Hera.
Ela tirou seu capuz.
— Para você, sempre fui Juno. E seu pai já lhe mandou seu auxílio, Jason. Ele lhe mandou Piper e Leo. Eles não são só sua responsabilidade. Eles também são seus amigos. Ouça-os, e você terá sucesso.
— Júpiter lhe mandou aqui para me dizer isso?
— Ninguém me manda para lugar nenhum, herói — ela disse. — Não sou uma mensageira.
— Mas você me colocou nessa. Por que me mandou para esse acampamento?
— Acho que você sabe — Juno rebateu. — Uma troca de líderes foi necessária. Foi o único modo de construir uma ponte onde não havia nenhuma.
— Eu não concordei com isso.
— Não. Mas Júpiter deu sua vida a mim, e eu estou ajudando-lhe a cumprir seu destino.
Jason tentou controlar sua raiva. Ele olhou para sua camisa laranja do acampamento e as tatuagens no braço, e soube que essas coisas não deveriam ficar juntas. Ele se tornara uma contradição  uma mistura tão perigosa quanto qualquer coisa que Medeia pudesse preparar.
— A senhora não vai me dar todas as minhas memórias — disse. — Mesmo que tenha prometido.
— A maioria voltará no seu devido tempo — Juno respondeu. — Mas deve encontrar seu próprio caminho de volta. Você precisa desses próximos meses com seus novos amigos, sua nova casa. Estará ganhando a confiança deles. Na hora que velejar no navio, será um líder nesse acampamento. E estará pronto para trazer a paz entre dois grandes poderes.
— E se você estiver mentindo? — perguntou. — E se você estiver fazendo isso para causar outra guerra civil?
A expressão de Juno era impossível de se ler  Deleito? Desdém? Afeição? Possivelmente todos os três. Por mais que ela parecesse humana, Jason sabia que ela não era. Ele ainda podia ver aquela luz cegante – a verdadeira forma da deusa que queimara o seu cérebro. Ela era Juno e Hera. Existia em vários lugares ao mesmo tempo. Seus motivos para fazer algo nunca eram simples.
— Eu sou a deusa da família — ela disse. — Minha família foi dividida por muito tempo.
— Eles nos dividiram para que não matemos uns aos outros — disse Jason. — Parece um motivo muito bom.
— A profecia demanda que mudemos. Os gigantes se erguerão. E só podem ser mortos por um deus e semideus trabalhando juntos. E tais semideuses devem ser os sete mais destacados de sua época. E eles estão divididos em dois lugares. Se permanecermos divididos, não venceremos. Gaia está contando com isso. Você deve unir os heróis do Olimpo e navegar junto com eles para encontrar os gigantes nos antigos campos de batalha da Grécia. Só então os deuses serão convencidos a se juntarem a você. Será a missão mais perigosa, a viagem mais importante, nunca tentada pelos filhos dos deuses.
Jason olhou novamente para a estátua mal-humorada do pai.
— Não é justo — disse Jason. — Eu poderia arruinar tudo.
— Você poderia — Juno concordou. — Mas deuses precisam de heróis. Sempre precisamos.
— Até você? Pensei que odiasse semideuses.
A deusa lhe deu um sorriso seco.
— Eu tenho essa fama. Mas se você quer a verdade, Jason, na maioria das vezes invejo os filhos mortais dos outros deuses. Vocês, semideuses, podem se estender por ambos os mundos. Acho que isso ajuda seus parentes divinos  até Júpiter, maldito seja  a entender o mundo mortal melhor que eu.
Juno suspirou tão tristemente que apesar de sua raiva, Jason quase teve pena dela.
— Eu sou a deusa do casamento — ela disse. — Não é da minha natureza ser infiel. Só tenho dois filhos divinos: Marte e Vulcano... ambos desapontamentos. Não tenho heróis mortais para fazerem a minha vontade, e por isso sou geralmente severa para com semideuses... Hércules, Eneias, todos eles. Mas também por isso ajudei o primeiro Jason, um mortal puro, que não tinha parentes divinos para guiá-lo. E por
isso estou feliz por Júpiter ter entregado você para mim. Você será meu campeão, Jason. Será o maior dos heróis, e trará união aos semideuses, e assim ao Olimpo.
Suas palavras assentaram sobre ele, mais pesadas que sacos de areia. Dois dias atrás, ele estaria aterrorizado pela ideia de liderar semideuses numa Grande Profecia, navegando para batalhar com os gigantes e salvar o mundo.
Ele ainda estava aterrorizado, mas algo mudara. Ele não se sentia mais sozinho. Tinha amigos agora, e um lar pela qual lutar. Tinha até mesmo uma deusa que olhava por ele, o que deveria contar alguma coisa, mesmo que ela parecesse um pouco indigna de confiança.
Jason tinha que se levantar e aceitar seu destino, assim como fizera quando encarou Porfírion de mãos vazias. Certo, parecia impossível. Ele podia morrer. Mas seus amigos estavam contando com ele.
— E se eu falhar? — perguntou.
— Uma grande vitória exige um grande risco — ela admitiu. — Falhe, e haverá derramamento de sangue como nunca foi visto. Os semideuses destruirão uns aos outros. Os gigantes tomarão o Olimpo. Gaia acordará e a terra destruirá tudo o que construímos por mais de cinco milênios. Será o fim de todos nós.
— Incrível. Simplesmente incrível.
Alguém bateu na porta do chalé.
Juno puxou seu capuz de volta sobre o rosto. Então ofereceu o gládio embainhado para Jason.
— Fique com essa arma no lugar da espada que você perdeu. Falaremos novamente. Goste você ou não, Jason, eu sou sua madrinha, sua conexão com o Olimpo. Precisamos um do outro.
A deusa sumiu enquanto as portas se abriam e Piper entrou.
— Annabeth e Rachel estão aqui — ela contou. — Quíron convocou o conselho.

O Herói Perdido - Leo

Capítulo LIV - Leo

FORAM PRECISOS ALGUNS MINUTOS PARA explicarem tudo. Então os outros campistas de Hefesto começaram a fazer perguntas todos de uma vez. Quem eram os outros quatro semideuses? Quanto tempo levaria para construir o barco? Por que todos não poderiam ir à Grécia?
— Heróis! — Quíron bateu seu casco no chão. — Nem todos os detalhes ainda estão claros, mas Leo está certo. Ele precisará da ajuda de vocês para construir o Argo II. Talvez seja o maior projeto do Chalé 9, ainda maior que o dragão de bronze.
— Levará pelo menos um ano — calculou Nyssa. — Temos tempo?
— Vocês tem seis meses, no máximo — disse Quíron. — Devem partir no solstício de verão, quando o poder dos deuses é mais forte. Além disso, evidentemente não podemos confiar nos deuses do vento, e os ventos de verão são os menos poderosos e mais fáceis de navegar. Não ousem navegar depois, ou talvez não consigam deter os gigantes. Devem evitar viajar por terra, usando somente o ar e o mar, portanto esse veículo é perfeito. Jason sendo o filho do deus do céu e...
A voz falhou, mas Leo entendeu que Quíron estava pensando sobre seu aluno desaparecido, Percy Jackson,  o filho de Poseidon. Ele seria ótimo para essa viagem, também.
Jake Mason se virou para Leo.
— Bem, uma coisa é certa. Agora você é nosso conselheiro-chefe. Essa é a maior honra que o chalé já teve. Alguém se opõe?
Ninguém disse nada. Todos os seus companheiros de chalé sorriram para ele, e Leo quase pôde sentir a maldição do chalé se quebrando, sua sensação de desamparo se esvaindo.
— É oficial, então — Jake disse. — Você é o cara.
Pela primeira vez, Leo ficou sem palavras. Desde que sua mãe morreu, ele gastara sua vida fugindo. Agora ele encontrara uma casa e uma família. Ele encontrou um trabalho a fazer. E por mais assustador que fosse, Leo não estava tentado a fugir, nem um pouco.
— Bem — disse por fim — se vocês me elegem líder, devem ser ainda mais loucos que eu. Então vamos construir essa supermáquina de guerra!

O Herói Perdido - Leo

Capítulo LIII - Leo

LEO NÃO SE SENTIA TÃO ANIMADO desde que ofereceu hambúrgueres aos lobisomens. Quando chegou ao penhasco na floresta, se virou para o grupo e sorriu nervosamente.
— Aqui vamos nós.
Ele desejou que suas mãos pegassem fogo e encostou-as contra a porta.
Seus companheiros de chalé ofegaram.
— Leo! — Nyssa gritou. — Você é um manipulador de fogo!
— Sim, obrigado — disse. — Eu sei.
Jake Mason, já sem o seu gesso, porém ainda de muletas, disse:
— Por Hefesto! Isso significa... é tão raro que...
A porta de pedra maciça se abriu e todos ficaram de queixo caído. A mão flamejante de Leo parecia insignificante agora. Até mesmo Piper e Jason pareciam atordoados, e eles tinham visto muitas coisas incríveis ultimamente.
Somente Quíron não parecia surpreso. O centauro franziu as espessas sobrancelhas e alisou a barba, como se o grupo estivesse prestes a atravessar um campo minado.
Isto fez com que Leo ficasse ainda mais nervoso, mas ele não poderia mudar sua opinião agora. Seus instintos lhe diziam que deveria mostrar este lugar... pelo menos para o chalé de Hefesto... e ele não podia esconder aquilo de Quíron ou de seus dois melhores amigos.
— Bem vindos ao bunker 9 — disse com tanta confiança quanto podia. — Vamos para dentro.


O grupo ficou em silêncio enquanto percorria as instalações. Tudo estava como Leo havia deixado  máquinas gigantes, mesas de trabalho, mapas e esquemas antigos. Só uma coisa havia mudado. A cabeça de Festus estava apoiada na mesa central, ainda com os arranhões e amassados de sua queda final em Omaha.
Leo foi até ele, com um gosto amargo na boca, e acariciou a testa do dragão.
— Me desculpe, Festus. Nunca te esquecerei.
Jason pôs a mão no ombro de Leo.
— Hefesto trouxe ele para você?
Leo fez que sim.
— Mas você não pode consertá-lo — adivinhou Jason.
— De maneira nenhuma — Leo falou. — Mas a cabeça vai ser reutilizada, Festus virá conosco.
Piper se aproximou e fez uma careta.
— O que você quer dizer?
Antes que Leo pudesse responder, Nyssa gritou:
— Pessoal, olhem isso!
Ela estava parada em uma das mesas, folheando um caderno de esboços  diagramas para centenas de máquinas e armas diferentes.
— Eu nunca vi nada como isto — disse Nyssa. — Há ideias mais surpreendentes aqui do que na Oficina de Dédalo. Ele levaria um século apenas para desenvolver todas elas.
— Quem construiu este lugar? — Jake Mason disse. — E por quê?
Quíron ficou em silêncio, mas Leo focou no mapa da parede que tinha visto durante sua primeira visita. Ele mostrava o Acampamento Meio-Sangue cheios de galeões na água, catapultas montadas nas colinas em torno do vale, trincheiras e locais de emboscada.
— É um centro de comando para tempos de guerra — Leo respondeu. — O acampamento foi atacado uma vez, não foi?
— Na Guerra dos Titãs? — Piper perguntou.
Nyssa balançou a cabeça.
— Não. Além disso, esse mapa é muito antigo. A data... aqui diz 1864.
Todos se viraram para Quíron.
A cauda do centauro balançou, aflita.
— Este acampamento foi atacado várias vezes — admitiu. — Este mapa é da última Guerra Civil.
Aparentemente, Leo não era o único confuso. Os outros campistas de Hefesto se olharam e franziram a testa.
— Guerra Civil... — disse Piper. — Você quer dizer a Guerra Civil americana de cento e cinquenta anos atrás?
— Sim e não — disse Quíron. — Os dois conflitos... de mortais e semideuses... espelharam-se um no outro, como geralmente acontece na história ocidental. Olhe para qualquer guerra civil ou revolução desde a queda de Roma: elas sempre marcam um momento em que os semideuses lutaram entre si. Mas essa guerra civil foi particularmente horrível. Para os mortais americanos, ainda foi o seu conflito mais sangrento de todos os tempos... pior que as perda das duas Guerras Mundiais. Para os semideuses, foi igualmente devastadora. Mesmo naquela época, este vale era o Acampamento Meio-Sangue. Houve uma batalha horrível nessas florestas que durou dias, com terríveis perdas para ambos os lados.
— Ambos os lados? — disse Leo. — Você quer dizer que o acampamento se dividiu?
— Não — Jason falou. — Ele quer dizer dois grupos diferentes. O Acampamento Meio-Sangue estava em um dos lados na guerra.
Leo não tinha certeza se queria uma resposta, mas perguntou:
— Quem era o outro?
Quíron olhou para a bandeira esfarrapada do bunker 9, como se lembrasse do dia em que foi feita.
— A resposta é perigosa — alertou. — É algo que jurei pelo Rio Estige nunca mais falar. Após a Guerra Civil americana, os deuses estavam tão horrorizados com a tragédia que assolou sobre seus filhos que juraram que aquilo nunca aconteceria novamente. Os dois grupos foram separados. Os deuses roubaram deles toda a vontade e deixaram a Névoa o mais espessa quanto puderam para certificar-se de que os inimigos não se lembrariam uns dos outros, nunca se encontrariam em missões, de modo que conflitos pudessem ser evitados. Este mapa é do final dos dias sombrios de 1864, a última vez que os dois grupos lutaram. Já estivemos muito perto de novos problemas desde então. Os anos de 1960 foram particularmente arriscados. Mas conseguimos evitar uma nova guerra civil, pelo menos até agora. Assim como Leo adivinhou, este abrigo era o centro de comando do chalé de Hefesto. No século passado, foi reaberto algumas vezes, geralmente como esconderijo em tempos de grande inquietação. Mas vir aqui é perigoso. Faz renascer memórias antigas, desperta antigos conflitos. Mesmo quando os Titãs nos ameaçaram no ano
passado, não achei que valeria a pena o risco de usar este lugar.
De repente, o sentimento de triunfo de Leo transformou-se em culpa.
— Ei, olhe, este lugar me encontrou. Era pra acontecer. É uma coisa boa.
— Espero que você esteja certo — disse Quíron.
— Eu estou! — Leo tirou o antigo desenho do bolso e colocou-o sobre a mesa para que todos vissem. — Aqui está — disse ele com orgulho. — Éolo foi quem me devolveu. Eu o desenhei quando tinha cinco anos. Esse é o meu destino.
Nyssa franziu a testa.
— Leo, é um desenho de giz de cera de um barco.
— Olhem — ele apontou para o maior diagrama que havia na parede: a planta que mostrava uma trirreme grega.
Lentamente, seus companheiros de chalé foram arregalando seus olhos quando compararam os dois projetos. O número de mastros e remos, até mesmo a decoração nos escudos e velas eram as mesmas do desenho de Leo.
— Isso é impossível — disse Nyssa. — Esse projeto deve ter pelo menos um século!
— Profecia... confusa... voo — Jake Mason leu as notas sobre o projeto. — É o diagrama de um navio voador. Olhem, este é o trem de pouso. Por Hefesto! Balesta giratória, arcos de montaria, chapeamento de bronze celestial. Esta coisa seria uma violenta máquina de guerra. Ela já foi construída?
— Ainda não — disse Leo. — Olhe para a figura da proa.
Não havia dúvida, a figura na parte da frente do navio era a cabeça de um dragão. Um dragão muito especial.
— Festus — Piper notou.
Todo mundo se virou e olhou para a cabeça do dragão em cima da mesa.
— Ele está destinado a ser o nosso mastro — Leo revelou. — Nosso amuleto de boa sorte, nossos olhos no mar. Eu tenho que construir esse barco. E vou chamá-lo de Argo II. E, gente, vou precisar da ajuda de vocês.
— Argo II — Piper sorriu. — Em homenagem ao navio de Jasão.
Jason parecia um pouco desconfortável, mas assentiu.
— Leo está certo. Este navio é o que precisamos para a nossa viagem.
— Que viagem? — Nyssa disse. — Vocês acabaram de voltar!
Piper correu os dedos sobre o velho desenho de giz de cera.
— Temos que enfrentar Porfírion, o rei gigante. Ele disse que iria destruir os deuses em suas raízes.
— De fato — disse Quíron. — grande parte da Grande Profecia de Rachel ainda é um mistério para mim, mas uma coisa é clara. Vocês três... Jason, Piper e Leo... estão entre os sete semideuses que devem assumir essa missão. Precisam enfrentar os gigantes em sua terra natal, onde eles são mais fortes. Devem pará-los antes que possam acordar Gaia totalmente, antes que destruam o Monte Olimpo.
— Hum — Nyssa observou. — Você não quer dizer Manhattan, não é?
— Não — Leo respondeu. — O Monte Olimpo original. Temos que navegar até a Grécia.

O Herói Perdido - Piper

Capítulo LII - Piper

PIPER NÃO SE LEMBRAVA MUITO bem do resto da noite. Eles contaram sua história e responderam as perguntas de um milhão de outros campistas, mas finalmente Quíron viu como eles estavam cansados e ordenou que fossem dormir.
Foi tão bom dormir em um colchão de verdade, e Piper estava tão exausta que dormiu imediatamente, o que poupou suas preocupações sobre como era voltar para o chalé de Afrodite.
Na manhã seguinte, ela acordou em sua cama, sentindo-se revigorada. O sol entrava através das janelas, juntamente com uma brisa agradável. Ela pensou que poderia ser primavera, ao invés do inverno. Os pássaros cantavam. Monstros uivavam nos bosques. O cheiro do café-da-manha vinha do pavilhão  bacon, panquecas e todos os tipos de coisas maravilhosas.
Drew e sua gangue estavam franzindo a testa para ela, com os braços cruzados.
— Bom dia — Piper sentou-se e sorriu. — Belo dia.
— Você está nos fazendo atrasar para o café-da-manha — disse Drew — o que significa que você limpará o chalé para a inspeção.
Uma semana atrás, Piper teria dado um soco no rosto Drew ou se escondido debaixo das cobertas. Mas pensou nos Ciclopes em Detroit, Medeia em Chicago, Midas transformando-a em ouro em Omaha. Olhando para Drew, que ousava incomodá-la, Piper riu.
A expressão satisfeita de Drew desmoronou. Ela recuou, então se lembrou que deveria estar com raiva.
— O que...
— Eu desafio você — disse Piper. — Meio-dia na Arena? Você pode escolher as armas.
Ela saiu da cama e sorriu para os campistas. Avistou Mitchell e Lacy, que a ajudaram a fazer sua mochila para a viagem. Eles sorriam timidamente, os seus olhos voando de Piper para Drew como se este pudesse ser um jogo de tênis muito interessante.
— Eu não esqueci vocês, garotos! — Piper anunciou. — Vamos ter grandes momentos quando eu for conselheira-chefe.
Drew ficou vermelha como  um pimentão. Mesmo suas melhores tenentes pareciam um pouco nervosas. Aquilo não estava em seu roteiro.
— Você... — Drew balbuciou. — Sua bruxa feia! Estou aqui há mais tempo. Você não pode simplesmente...
— Desafiar você? — disse Piper. — Claro que posso. Regras do Acampamento. Eu fui reclamada por Afrodite, completei uma missão, que é uma a mais do que você concluiu. Se eu sinto que posso fazer um trabalho melhor, posso desafiá-la. A menos que você queira renunciar. Entendi tudo direitinho, Mitchell?
— Muito bem, Piper — Mitchell estava sorrindo.
Lacy estava saltando para cima e para baixo como se estivesse tentando decolar. Algumas das outras crianças começaram a sorrir, como se estivessem apreciando as cores diferentes que o rosto de Drew estava se transformando.
 Renunciar? — Drew gritou. — Você está louca!
Piper deu de ombros. Então, num movimento muito rápido, puxou Katoptris de debaixo do travesseiro, a desembainhou e apontou para o queixo de Drew. Todos congelaram. Uma garota caiu em uma mesa de maquiagem e enviou uma nuvem de pó cor de rosa pelo chalé.
— Um duelo, então — Piper disse alegremente. — Se você não quiser esperar até o meio-dia, agora está ótimo. Você transformou este chalé em uma ditadura, Drew. Silena Beauregard sabia melhor do que isso. Afrodite é a deusa do amor e da beleza. Trata-se de ser amorosa. Espalhar beleza. Bons amigos. Bons tempos. Boas ações. Não apenas boa aparência. Silena cometeu erros, mas no final ficou do lado de seus amigos. Por isso é uma heroína. Eu vou acertar as coisas, e tenho o pressentimento que mamãe vai estar do meu lado. Quer saber mais?
Drew ficou vesga olhando para a lâmina do punhal de Piper. Um segundo se passou. Em seguida, dois. Piper não se importava. Ela estava absolutamente feliz e confiante. Deve ter mostrado isso em seu sorriso.
— Eu... renuncio — Drew resmungou. — Mas saiba que nunca vou esquecer isso, McLean.
— Ah, eu espero que não — disse Piper. — Agora, corra pro refeitório e explique para Quíron porque estamos atrasados. Houve uma mudança de líder por aqui.
Drew seguiu para a porta. Até seus ajudantes mais próximos não estavam seguindo-a. Ela estava prestes a sair quando Piper disse:
— Ah, Drew, querida?
A ex-conselheira olhou para trás com relutância.
— No caso de você pensar que eu não sou uma verdadeira filha de Afrodite — Piper falou — nunca mais olhe para Jason Grace. Ele pode não saber ainda, mas ele é meu. Se tentar fazer uma jogada, vou colocar você em uma catapulta e atirá-la do outro lado de Long Island.
Drew virou-se depressa e correu para a porta. Então ela se foi.
O chalé ficou em silêncio. Os outros campistas olharam para Piper. Esta foi a parte em que ela estava insegura. Ela não queria governar pelo medo. Ela não era como Drew, mas não sabia se eles a aceitariam.
Porém, espontaneamente, os campistas do chalé de Afrodite aplaudiram tão alto que devem ter sido ouvidos em todo o acampamento. Eles se agruparam ao redor de Piper e a levaram para fora do chalé, colocando-a sobre os seus ombros, e carregaram-na todo o caminho até o pavilhão de refeições. Ela ainda estava de pijama, o cabelo bagunçado, mas ela não se importou. Nunca se sentira melhor.



Pela tarde, Piper tinha trocado de roupa. Colocou uma confortável roupa do acampamento e coordenou o chalé de Afrodite nas suas atividades da manhã. Ela estava pronta para um momento de folga.
Alguns dos burburinhos de sua vitória se tinham desvanecido, porque ela tinha um encontro na Casa Grande.
Quíron a encontrou na varanda da frente em forma humana, compactada em sua cadeira de rodas.
— Venha para dentro, minha querida. A videoconferência está pronta.
O único computador que havia no acampamento estava no escritório de Quíron, e toda a sala era revestida por chapas de bronze.
— Semideuses e tecnologia não combinam — Quíron explicou. — Ligações telefônicas, mensagens de texto, até navegar pela internet... todas essas coisas podem atrair monstros. Por conta disso, neste último outono tivemos que resgatar um jovem herói numa escola em Cincinnati que buscou no Google por górgonas e encontrou um pouco mais que procurava. Mas isso não importa. Aqui no acampamento você está protegida. Ainda assim a gente tenta ser cauteloso. Você só vai ser capaz de falar por alguns minutos.
— Vamos lá — disse Piper. — Obrigado, Quíron.
Ele sorriu e guiou sua cadeira de rodas para fora do escritório. Piper hesitou antes de clicar no botão de chamada.
O escritório de Quíron dava uma sensação acolhedora. Uma parede estava coberta com camisetas de diferentes convenções: Pôneis de Festa 2009, Vegas; Pôneis de Festa 2010, Honolulu, etc. Piper não sabia o que eram os Pôneis de Festa, mas a julgar pelas manchas, marcas de queimaduras e os buracos de bala nas camisetas, eles deviam ter encontros bastante selvagens. Na prateleira mais perto da escrivaninha de Quíron estava um aparelho de som à moda antiga com fitas cassete rotulados “Dean Martin” e “Frank Sinatra” e “Maiores Hits dos anos 40.” Quíron era tão velho, que Piper se perguntou se aquilo significava 1940, 1840 ou mesmo 40 d.C.
Mas a maior parte do espaço da parede do escritório era coberta por fotos de semideuses, como um hall da fama. Uma das imagens mais recente mostrava um adolescente com cabelos escuros e olhos verdes. Como estava de braço dado com Annabeth, Piper assumiu o cara deveria ser Percy Jackson. Em algumas das fotos mais antigas, reconheceu pessoas famosas: empresários, atletas, até mesmo alguns atores que seu pai conhecia.
— Inacreditável — ela murmurou.
Piper se perguntou se a foto dela estaria naquela parede um dia. Pela primeira vez, sentiu como se fosse parte de algo maior que ela. Semideuses estavam por aí há seculos. Tudo o que ela fez, fez por todos eles.
Ela respirou fundo e fez a chamada. A tela de vídeo apareceu.
Gleeson Hedge sorriu do escritório de seu pai.
— Viu as notícias?
— É difícil não ver — disse Piper. — Espero que você saiba o que está fazendo.
Quíron tinha-lhe mostrado um jornal na hora do almoço. O misterioso retorno de seu pai tinha aparecido na primeira pagina. Sua assistente pessoal Jane foi demitida por encobrir o seu desaparecimento e não notificar a polícia. A nova equipe foi contratada e pessoalmente examinada pelo novo assistente pessoal de Tristan McLean, o treinador Gleeson Hedge. Segundo o jornal, o Sr. McLean afirmou não ter nenhuma memória da semana anterior e a mídia especulava. Alguns imaginaram que era uma jogada de marketing inteligente para um filme, talvez McLean fosse interpretar alguém que sofresse de amnésia. Outros achavam que ele tinha sido sequestrado por terroristas, por fãs raivosos ou que tinha escapado heroicamente de sequestradores usando suas habilidades de combate. Qualquer que fosse a verdade, Tristan McLean estava mais famoso do que nunca.
— Está indo muito bem — Hedge prometeu. — Mas não se preocupe. Vamos mantê-lo fora do olhar público durante o próximo mês ou até as coisas esfriarem. Seu pai tem mais coisas importantes para fazer, como descansar e conversar com sua filha.
— Não fique muito à vontade aí em Hollywood, Gleeson — disse Piper.
Hedge bufou.
— Você está brincando? Essas pessoas fazem Éolo parecer normal. Eu estarei de volta logo que puder, mas seu pai tem que ficar de pé de novo em primeiro lugar. Ele é um bom rapaz. Ah, e por falar nisso, também cuidei daquela outra questão. O Park Service da Bay Area... recebeu uma doação anônima: um novo helicóptero. E a pilota que nos ajudou? Recebeu uma oferta muito boa para trabalhar para o Sr. McLean.
— Obrigado, Gleeson. Por tudo.
— Sim, tudo bem. Eu tento não ser impressionante. Vem apenas naturalmente. Conheça a nova assistente de seu pai.
Hedge foi empurrado para fora do caminho e uma bela jovem sorriu para a câmera.
— Mellie? — Piper olhou, mas era definitivamente ela: a aura que tinha ajudado a escapar da fortaleza de Éolo. — Você está trabalhando para o meu pai agora?
— Não é fantástico?
— Ele sabe... que você é... um espirito do vento?
— Ah, não. Mas eu amo este trabalho. É... hã... uma brisa.
Piper não podia deixar de rir.
— Estou contente. Isso é incrível. Mas onde...
— Só um segundo — Mellie beijou Gleeson na bochecha. — Vamos lá, seu bode velho. Pare de monopolizar a tela.
— O quê? — Hedge perguntou. Mas Mellie conduziu-o para longe e chamou: — Sr. McLean? Ela está aqui!
Um segundo depois, o pai de Piper apareceu.
Ele abriu um sorriso enorme.
— Pipes!
Ele parecia ótimo, de volta ao normal, com seus brilhantes olhos castanhos, barba feita, sorriso confiante e cabelo recém-cortado, como se estivesse pronto para filmar uma cena. Piper estava aliviada, mas também se sentia um pouco triste. Voltar ao normal não era necessariamente o que ela queria.
Em sua mente, começou a contar. Em uma chamada normal como esta, em um dia de trabalho, ela não teria a atenção de seu pai por mais de trinta segundos.
— Hey — ela disse fracamente. — Você está se sentindo bem?
— Querida, eu sinto muito por você se preocupar com esse negócio de desaparecimento. Eu não sei... — Seu sorriso vacilou, e ela poderia dizer que ele estava tentando lembrar uma memória que deveria estar lá, mas não estava. — Eu não tenho certeza do que aconteceu, sinceramente. Mas estou bem. Treinador Hedge tem sido uma dádiva de Deus.
— Uma dádiva de Deus — ela repetiu.
Escolha engraçada das palavras.
— Ele me contou sobre sua nova escola — papai falou. — Lamento pela Escola da Vida Selvagem. Você estava certa. Jane estava errada. Eu fui um tolo por ouvi-la.
Dez segundos passaram, talvez. Mas pelo menos o pai dela parecia sincero, como se ele realmente sentisse remorso.
— Você não lembra de nada? — ela perguntou, um pouco melancólica.
— Claro que sim.
Um arrepio desceu de seu pescoço.
— Você lembra?
— Eu me lembro que eu te amo. E eu estou orgulhoso de você. Está feliz na sua nova escola?
Piper piscou. Ela não ia chorar agora. Afinal, pelo que ela tinha passado, isso seria ridículo.
— Sim, papai. É mais como um acampamento, não uma escola, mas... sim, acho que vou ser feliz aqui.
— Chame-me quantas vezes puder — disse ele. — E venha pra casa para o Natal. E Pipes...
— Sim?
Ele tocou a tela como se estivesse tentando alcançá-la com sua mão.
— Você é uma jovem maravilhosa. Eu não digo isso com frequência suficiente. Você me lembra muito sua mãe. Ela ficaria orgulhosa. E o vovô Tom — ele riu — ele sempre disse você iria ser a voz mais poderosa em nossa família. Você vai me ofuscar algum dia, sabe. Eles vão se lembrar de mim como pai Piper McLean, e esse é o melhor legado que posso imaginar.
Piper tentou responder, mas ficou com medo de chorar. Ela apenas tocou com os dedos na tela e balançou a cabeça.
Mellie disse algo em segundo plano, e seu pai suspirou.
— Estúdio chamando. Querida, me desculpe.
— Está tudo bem, papai — ela conseguiu dizer. — Te amo.
Ele piscou. Em seguida, a chamada de vídeo ficou escura.
Quarenta e cinco segundos? Talvez um minuto inteiro.
Piper sorriu. Uma pequena melhora, mas era um progresso.


Na área comum, ela encontrou Jason relaxando em um banco, com uma bola de basquete entre seus pés. Ele estava suado do exercício, mas parecia incrível na sua camiseta laranja e shorts. Suas várias cicatrizes e hematomas se foram, graças a um pouco de atenção médica do chalé de Apolo. Seus braços e pernas eram musculosos e bronzeados... enlouquecedores, como sempre. Seus cabelos loiros e curtos capturavam a luz da tarde, assim parecia ouro, ao estilo de Midas.
— Hey — ele chamou. — Como foi?
Levou um segundo para ela se concentrar na pergunta.
— Hmm? Ah, sim. Bem.
Ela se sentou ao lado dele e eles viram os campistas passando. Um casal de filhos de Deméter estava pregando uma peça em dois filhos de Apolo que jogavam basquete: faziam grama crescer em torno de seus tornozelos enquanto arremessavam do garrafão. Na loja do acampamento, as crianças Hermes colocavam um cartaz que dizia: sapatos voadores, seminovos, 50% de desconto hoje! Crianças de Ares circundavam seu chalé com arame farpado novo. O chalé de Hipnos roncava. Um dia normal no acampamento.
Enquanto isso, os filhos de Afrodite estavam vendo Piper e Jason, tentando fingir que não estavam. Piper tinha certeza de que vira dinheiro passar nas mãos, como se estivessem apostando se haveria ou não um beijo.
— Dormiu bem? — perguntou-lhe.
Ele olhou para ela como se ela tivesse lido seus pensamentos.
— Não muito. Sonhos.
— Sobre o seu passado?
Ele assentiu.
Ela não insistiu. Se ele quisesse conversar, tudo bem, mas Piper sabia que não devia pressionar. Ela não se preocupava que seu conhecimento sobre ele era baseado em três meses de falsas memórias. Você é capaz de enxergar possibilidades, sua mãe tinha dito. E Piper estava determinada a fazer dessas possibilidades uma realidade.
Jason virou sua bola de basquete.
— Não são boas notícias — advertiu. — Minhas lembranças não são boas... para ninguém.
Piper tinha certeza que ele tinha estado a ponto de dizer para nós, para os dois, e ela perguntou-se se ele havia lembrado de uma garota de seu passado. Mas ela não o incomodou. Não em um dia ensolarado como este, com Jason ao lado dela.
— Nós vamos resolver isso — prometeu.
Ele olhou para ela hesitante, como se quisesse muito acreditar nisso.
— Annabeth e Rachel estão chegando para a reunião desta noite. Eu provavelmente deveria esperar até lá para explicar...
— Ok — Piper arrancou uma folha de grama do seu pé.
Ela sabia que havia coisas perigosas reservadas pra ambos. Teria que competir com passado de Jason e não poderia mesmo sobreviver a guerra contra os gigantes. Mas agora, ambos estavam vivos, e ela estava determinada a aproveitar este momento.
Jason estudou-a com cautela. Sua tatuagem no antebraço ficou azul claro na luz do sol.
— Você está de bom humor. Como pode ter tanta certeza de que as coisas vão funcionar?
— Porque você vai nos liderar — disse ela simplesmente. — Eu vou segui-lo em qualquer lugar.
Jason piscou. Então, lentamente, ele sorriu.
— Coisa perigosa de dizer.
— Eu sou uma garota perigosa.
— Nisso eu acredito.
Ele se levantou e arrumou seus shorts. Ofereceu-lhe uma mão.
— Leo disse que tem algo para nos mostrar no bosque. Você vem?
— Não perderia por nada.
Ela pegou sua mão e levantou-se. Por um momento, eles continuaram de mãos dadas. Jason inclinou a cabeça.
— Nós deveríamos ir.
— Sim — disse ela. — Só um segundo.
Ela soltou de sua mão e pegou um cartão prateado do bolso  o cartão de visitas que Thalia tinha lhe dado, as Caçadoras de Ártemis. Ela atirou-o à fogueira e viu-o queimar. Não haveria corações partidos no chalé de Afrodite a partir de agora. Esse era um ritual de passagem que não havia necessidade.
Do outro lado do campo, ela viu campistas decepcionados, que não tinham presenciado um beijo. Eles começaram a descontar nas suas apostas. Mas tudo estava bem. Piper era paciente, e ela podia ver muitas boas possibilidades.
— Vamos — disse Jason. — Temos aventuras a planejar.