domingo, 18 de janeiro de 2015

A Pirâmide Vermelha - Sadie

Capítulo 19 - Um piquenique no céu

[TUDO BEM, CARTER. PASSE O MICROFONE.]
Eu já tinha estado no Louvre uma vez, nas férias, mas nunca enquanto fugia de terríveis morcegos de frutas. Eu estaria apavorada, se não estivesse tão ocupada sentindo raiva de Carter. Não acreditava em como ele tinha resolvido o problema de ser ave. Francamente, cheguei a pensar que seria um papagaio para sempre, sufocando dentro de uma pequenina prisão de penas. E ele tinha tido a coragem de debochar!
Prometi a mim mesma que me vingaria, mas, por enquanto, estávamos preocupados demais simplesmente com nossa sobrevivência.
Corremos sob a chuva fria. Eu tentava não escorregar na calçada molhada. Olhei para trás e vi duas criaturas nos perseguindo: homens de cabeça raspada e cavanhaque vestindo capas pretas de chuva. Eles poderiam ter passado por simples mortais, se cada um não carregasse um cajado brilhante. Não era bom sinal.
Os morcegos estavam nos nossos calcanhares, literalmente. Um deles mordeu minha perna. Outro passou zumbindo perto da orelha. Tive de me forçar a continuar correndo. Meu estômago ainda estava embrulhado por eu ter comido um deles quando era um papagaio – e não, a ideia não foi minha. Foi só um instinto de defesa!
— Sadie — chamou Bastet enquanto corríamos. — Você vai ter poucos segundos para abrir o portal.
— Onde está? — gritei.
Atravessamos correndo a Rue de Rivoli e entramos na praça larga cercada pelas alas do Louvre. Bastet corria diretamente para a pirâmide de vidro na entrada, um marco que brilhava na penumbra.
— Não pode estar falando sério. Isso não é uma pirâmide de verdade.
— É claro que é real — retrucou Bastet. — É a forma que confere poder à pirâmide. É uma rampa para o céu.
Os morcegos nos cercavam, mordiam nossos braços, voavam em volta de nossos pés. Com o número das criaturas cada vez maior, era mais e mais difícil enxergar ou se mover.
Carter levou a mão à espada, mas, aparentemente, lembrou que ela não estava mais lá. Ele a tinha perdido em Luxor. Praguejando, ele revirou a bolsa.
— Não diminuam a velocidade! — Bastet nos repreendeu.
Carter pegou sua varinha. Frustrado, ele a arremessou contra um morcego. Achei que fosse um gesto inútil, mas a varinha brilhou com uma luz muito branca e bateu com força na cabeça do morcego, derrubando-o. A varinha ricocheteou no meio da nuvem de vampiros, batendo em seis, sete, oito monstrinhos antes de voltar à mão de Carter.
— Nada mal — comentei. — Continue.
Chegamos à base da pirâmide. Felizmente, o lugar estava vazio. A última coisa que eu queria era minha morte constrangedora provocada pelos morcegos de frutas postada no YouTube.
— Um minuto para o pôr do sol — avisou Bastet. — Nossa última chance é agora.
Ela empunhou suas lâminas e começou a cortar morcegos no ar, tentando mantê-los longe de mim. A varinha de Carter voava freneticamente, derrubando morcegos de frutas a torto e a direito. Encarei a pirâmide e tentei pensar em um portal, como havia feito em Luxor, mas era quase impossível me concentrar.
Aonde quer ir? Era a voz de Ísis ressoando em minha cabeça.
Meu Deus, tanto faz! Estados Unidos!
Percebi que estava chorando. Odiava chorar, mas o susto e o medo começavam a me dominar. Para onde eu queria ir? Para casa, é claro! De volta a minha casa em Londres – de volta a meu quarto, meus avós, meus amigos da escola e minha velha vida. Mas não podia. Precisava pensar em meu pai e em nossa missão. Tínhamos de pegar Set.
Estados Unidos, eu pensei. Agora!
Minha explosão emocional deve ter surtido algum efeito. A pirâmide tremeu. As paredes de vidro refletiam o brilho que surgia no topo. Apareceu um funil giratório de areia, sim. O único problema é que ele girava bem no topo da pirâmide.
— Subam! — ordenou Bastet.
Fácil falar. Ela era um gato.
— A parede é muito inclinada! — protestou Carter.
Ele fizera um bom trabalho com os morcegos. Pilhas de criaturas tontas cobriam a calçada, mas outros ainda voavam a nossa volta, mordendo cada pedaço de pele exposta, e os magos se aproximavam.
— Vou jogar vocês — disse Bastet.
— Como é que é?
Carter reagiu, mas ela já o agarrava pela gola da camisa e pela calça e o jogava para cima, pela lateral da pirâmide. Ele engatinhou até o topo de um jeito nada digno e escorregou diretamente pelo portal.
— Agora você, Sadie. Vamos!
Mas antes que eu pudesse me mover, uma voz masculina gritou:
— Pare!
Estúpida que sou, parei. A voz era poderosa demais, era difícil não obedecer.
Os dois magos se aproximavam. O mais alto falava um inglês perfeito.
— Renda-se, Srta. Kane, e volte para a propriedade de nosso mestre.
— Sadie, não escute o que ele diz — Bastet me advertiu. — Venha aqui.
— A deusa gata a engana — continuou o mago. — Ela abandonou seu posto. Ela pôs a todos nós em perigo. Vai nos levar à ruína.
Eu sabia que ele estava falando sério. Estava absolutamente convencido do que dizia.
Olhei para Bastet. A expressão dela havia mudado. Parecia magoada, ferida.
— O que ele quer dizer? — perguntei. — O que você fez?
— Precisamos sair daqui — insistiu Bastet. — Ou eles nos matarão.
Olhei para o portal. Carter já tinha passado. Isso tirava a decisão de minhas mãos. Eu não ficaria separada de meu irmão. Por mais irritante que fosse, Carter era a única pessoa que me restava. (Quanto isso é deprimente!)
— Pode me jogar.
Bastet me agarrou.
— Vejo você nos Estados Unidos. — E ela me jogou pirâmide acima.
Ouvi o mago urrar.
— Renda-se!
Uma explosão sacudiu o vidro junto a minha cabeça. Depois, mergulhei no turbilhão quente de areia.

***

Acordei em um cômodo pequeno com carpete, paredes cinzentas e janelas de metal. Eu me senti dentro de um refrigerador moderno. Sentei-me, atordoada, e descobri que estava coberta de areia fria e molhada.
— Eca. Onde estamos?
Carter e Bastet estavam em pé ao lado da janela. Aparentemente, tinham recuperado a consciência havia algum tempo, porque já estavam relativamente limpos.
— Você precisa ver essa paisagem — comentou Carter.
Eu me levantei com alguma dificuldade e quase caí quando vi a que altura estávamos.
Uma cidade inteira se espalhava aos nossos pés – muito lá embaixo, bem mais de cem metros. Dava para acreditar que ainda estávamos em Paris, porque um rio corria a nossa esquerda e o relevo era quase plano. E havia edifícios oficiais brancos, agrupados em volta de um conjunto de parques e caminhos circulares, tudo isso sob o céu de inverno. Mas a luminosidade não era a correta. Ainda era de tarde ali, então devíamos ter viajado
para oeste. E quando os meus olhos se dirigiram para o outro lado do longo espaço retangular verde, deparei com uma mansão que parecia estranhamente familiar.
— Aquilo é... a Casa Branca?
Carter assentiu.
— Você nos trouxe para os Estados Unidos. Washington.
— Mas estamos num lugar muito alto!
Bastet riu.
— Você não especificou nenhuma cidade americana, não é?
— Bem... não.
— Então, passamos pelo portal-padrão dos Estados Unidos: a maior fonte de poder egípcio na América do Norte.
Olhei para ela sem entender o que ouvia.
— O maior obelisco já construído — explicou ela. — O Monumento a Washington.
Tive uma vertigem momentânea e me afastei da janela. Carter me segurou pelo ombro e me ajudou a sentar.
— Você precisa descansar. Ficou desmaiada por... quanto tempo, Bastet?
— Duas horas e trinta minutos — respondeu ela. — Sinto muito, Sadie. Abrir mais de um portal por dia é extremamente exaustivo, mesmo com a ajuda de Ísis.
Carter franziu a testa.
— Mas precisamos dela para abrir outro portal, não é? O sol ainda não se pôs. Ainda podemos usar portais. Vamos abrir outro para o Arizona. Set está lá.
— Sadie não pode abrir outro portal. Isso esgotaria seus poderes. Eu não tenho esse talento. E você, Carter... Bem, suas habilidades são outras. Sem ofensa.
— Ah, não — resmungou ele. — Tenho certeza de que vai me chamar na próxima vez que precisar de alguém para derrubar morcegos de frutas com um bumerangue.
— Além do mais — completou Bastet — quando um portal é usado, é necessário algum tempo para que ele resfrie. Ninguém vai conseguir usar o Monumento a Washington...
— Por doze horas. — Carter gemeu. — Eu tinha me esquecido disso.
Bastet assentiu.
— E até lá, os Dias do Demônio já terão começado.
— Então precisamos de outro meio de transporte até o Arizona — decidiu Carter.
Não acredito que ele tenha tido a intenção de fazer eu me sentir culpada, mas era exatamente isso o que sentia. Eu não tinha pensado, planejado, antes de agir, e agora estávamos presos em Washington.
Olhei para Bastet pelo canto do olho. Queria perguntar o que os homens no Louvre haviam insinuado sobre ela nos levar à ruína, mas tinha medo. Queria acreditar que ela estava do nosso lado. Talvez, se desse a ela uma chance, Bastet contaria voluntariamente.
— Pelo menos aqueles magos não nos seguiram — comentei.
Ela hesitou.
— Não pelo portal. Mas há outros magos nos Estados Unidos. E pior... são seguidores de Set.
Meu coração estava na boca. A Casa da Vida já era bem assustadora, mas quando eu me lembrava de Set e do que seus seguidores tinham feito com a casa de Amós...
— E o livro de encantamentos de Tot? — Lembrei. — Pelo menos encontramos um jeito de lutar contra Set?
Carter apontou para um canto da sala. Sobre a capa de Bastet eu vi a caixa de magia de meu pai e o livro azul que tínhamos roubado de Desjardins.
— Talvez você consiga entender alguma coisa — sugeriu Carter. — Bastet e eu não fomos capazes de lê-lo. Até Doughboy ficou confuso.
Peguei o livro, que, na verdade, era um pergaminho dobrado várias vezes. O papiro estava quebradiço, ressecado, por isso temi tocá-lo. Hieróglifos e ilustrações cobriam a página, mas eu não conseguia entendê-los. Minha habilidade de ler o idioma parecia ter sido desligada.
Ísis? Uma ajudinha?
Silêncio. Talvez eu a tivesse deixado cansada. Ou talvez ela estivesse zangada comigo por não deixá-la se apoderar de meu corpo, como Hórus havia pedido a Carter. Egoísmo, eu sei. Fechei o livro sem disfarçar a frustração.
— Tanto trabalho por nada.
— Ei, ei, não é tão ruim — Bastet reagiu.
— Ah, não — ironizei. — Estamos presos em Washington. Temos dois dias para chegar ao Arizona e deter um deus que não sabemos como parar. E se não conseguirmos, jamais veremos nosso pai ou Amós outra vez, e o mundo pode acabar.
— Esse é o espírito — concordou Bastet. — Agora vamos fazer um piquenique.
Ela estalou os dedos. O ar brilhou e uma pilha de latas de ração Friskies e duas jarras de leite apareceram no carpete.
— Hum — Carter gemeu. — Pode conjurar comida de gente?
Bastet piscou.
— Bem, gosto é gosto.
O ar tremeluziu novamente. Desta vez, apareceu um prato com queijos-quentes e biscoitos e uma embalagem com seis latas de Coca.
— Delícia — comentei.
Carter resmungou alguma coisa. Acho que ele não gosta muito de queijo-quente, mas pegou um sanduíche.
— Precisamos sair daqui depressa — disse ele entre uma mordida e outra no sanduíche. — Quer dizer... turistas e tudo o mais...
Bastet balançou a cabeça.
— O Monumento a Washington fecha às seis da tarde. Os turistas já foram embora. Podemos passar a noite aqui. Se quisermos viajar durante os Dias do Demônio, é melhor que seja à luz do dia.
Devíamos estar exaustos, porque não voltamos a falar até terminarmos de comer. Comi três sanduíches e bebi duas latas de Coca. Bastet deixou o lugar cheirando a Friskies de peixe, depois começou a lamber a mão como se preparasse um banho de gato.
— Pode parar com isso? — pedi. — É desagradável.
— Ah. — Ela sorriu. — Desculpe.
Fechei os olhos e me apoiei na parede. Era bom descansar, mas percebi que a sala não estava realmente quieta. Todo o prédio parecia vibrar sutilmente, fazendo meu crânio tremer e meus dentes rangerem. Abri os olhos e me sentei. A sensação continuava.
— O que é isso? — perguntei. — O vento?
— Energia mágica — explicou Bastet. — Eu disse, este é um monumento poderoso.
— Mas é moderno. Como a pirâmide do Louvre. Por que é mágico?
— Os antigos egípcios eram excelentes construtores, Sadie. Eles utilizavam formas, como obeliscos e pirâmides, que eram carregadas de magia simbólica. Um obelisco representa um raio de sol imobilizado em pedra: um raio que dá a vida e pertence ao rei original dos deuses, Rá. Não importa quando a estrutura foi construída; ela ainda será egípcia. Por isso qualquer obelisco pode ser usado para abrir portais para o Duat ou libertar grandes seres de poder...
— Ou prendê-los — acrescentei. — Como você foi aprisionada na Agulha de Cleópatra.
A expressão dela ficou sombria.
— Eu não estava exatamente presa no obelisco. Minha prisão era um abismo magicamente criado no fundo do Duat, e o obelisco foi a porta que seus pais usaram para me libertar. Mas, sim. Todos os símbolos do Egito são nós de poder mágico concentrado. Então, sim, definitivamente, um obelisco pode ser usado para aprisionar deuses.
Uma ideia insistia no fundo de minha mente, mas eu não conseguia defini-la. Algo sobre minha mãe, a Agulha de Cleópatra e a última promessa de papai no British Museum: “Farei tudo ser muito melhor para nós todos.
Pensei no Louvre e no comentário que o mago tinha feito. Bastet ficou tão perturbada naquele momento que eu chegava a ter medo de perguntar, mas era a única maneira de obter uma resposta.
— O mago disse que você abandonou seu posto. O que isso significa?
Carter ficou sério, carrancudo.
— Quando foi isso?
Contei a ele o que tinha acontecido depois de Bastet tê-lo jogado pirâmide acima, para o portal. Bastet empilhava suas latas vazias de Friskies. Não parecia ter muita pressa para responder.
— Quando fui aprisionada — disse ela finalmente — eu... não estava sozinha. Fui trancada com uma... criatura do caos.
— Tão ruim assim? — perguntei.
Pela expressão de Bastet, a resposta era sim.
— Os magos sempre fazem isso, trancam um deus com um monstro, para não termos tempo de tentar fugir. Lutei contra esse monstro por eras. Quando seus pais me soltaram...
— O monstro escapou?
Bastet hesitou por tempo demais para meu gosto.
— Não. Meu inimigo não poderia ter escapado. — Ela respirou fundo. — O último ato de magia de sua mãe selou aquele portal. O inimigo continua lá dentro. Mas era a isso que o mago se referia. Do ponto de vista dele, meu “posto” era lá, lutando contra aquele monstro eternamente.
A explicação soava verdadeira, como se ela compartilhasse conosco uma lembrança dolorosa, mas o relato não explicava outra coisa que o mago dissera: “Ela pôs a todos nós em perigo.” Eu estava reunindo coragem para perguntar o que era o tal monstro, quando Bastet se levantou.
— Preciso fazer o reconhecimento — disse de repente. — Já volto.
Ouvimos seus passos ecoando pela escada.
— Ela está escondendo alguma coisa — opinou Carter.
— E você chegou a essa conclusão sozinho, não foi? — disparei.
Ele desviou o olhar e eu me senti mal imediatamente.
— Desculpe. Mas é que... O que vamos fazer?
— Salvar papai. O que mais podemos fazer? — Meu irmão pegou sua varinha e a girou entre os dedos. — Acha que ele realmente pretendia... Você sabe, trazer a mamãe de volta?
Eu queria dizer sim. Mais que tudo, queria acreditar que isso era possível. Mas balancei a cabeça. Alguma coisa não encaixava.
— Iskandar me disse algo sobre a mamãe. Ela era uma adivinha. Podia ver o futuro. Ele contou que ela o fez repensar algumas antigas ideias.
Era minha primeira chance de falar com Carter sobre a conversa com o velho mago, por isso contei a ele os detalhes.
Carter me ouvia intrigado.
— Acha que isso tem alguma relação com a morte da mamãe? Ela viu algo no futuro?
— Não sei. — Tentei pensar no passado, quando eu tinha seis anos, mas minha memória era confusa. — Quando eles nos levaram para a Inglaterra pela última vez, ela e papai pareciam estar com pressa, como se estivessem fazendo alguma coisa realmente importante.
— É verdade.
— Acha que libertar Bastet era realmente importante? Quer dizer, eu gosto dela, é claro, mas... Seria importante a ponto de valer a pena morrer?
Carter hesitou.
— Provavelmente não.
— Então. Aí está. Acho que papai e mamãe tinham planos maiores, algo que eles não concluíram. Possivelmente, era isso que papai procurava no British Museum: concluir a tarefa, qualquer que fosse. “Farei com que tudo fique bem outra vez.” E toda essa história sobre nossa família ter raízes no passado, há um bilhão de anos, em alguns faraós hospedeiros de deuses... Por que ninguém nunca nos contou nada? Por que papai não nos contou?
Carter demorou muito para responder.
— Talvez estivesse nos protegendo — sugeriu ele. — Essa Casa da Vida não confia em nossa família, especialmente depois do que papai e mamãe fizeram. Amós disse que fomos criados separados por um motivo, para não despertarmos a magia um no outro.
— Que belíssima razão para nos manter separados — resmunguei.
Carter me olhou de um jeito estranho, e percebi que meu último comentário podia ser interpretado como um elogio.
— Só quis dizer que deveriam ter sido honestos — acrescentei, apressada. — Não queeu quisesse mais tempo com meu irmão irritante, é claro.
Ele assentiu, sério.
— É claro.
Ficamos sentados ouvindo a vibração mágica do obelisco. Tentei lembrar a última vez que Carter e eu tínhamos ficado juntos desse jeito, simplesmente conversando.
— Seu... — Bati com a ponta do dedo em minha cabeça. — Seu amigo está ajudando em alguma coisa?
— Não muito — admitiu ele. — E sua amiga?
Fiz que não com a cabeça.
— Carter, você está com medo?
— Um pouco. — Ele enfiou a varinha no carpete. — Não, muito.
Olhei para o livro azul que tínhamos roubado – páginas cheias de maravilhosos segredos que eu não conseguia ler.
— E se não formos capazes disso?
— Não sei. Aquele livro sobre como dominar o elemento queijo teria sido mais útil.
— Ou o que explicava como invocar morcegos de frutas.
— Por favor, os morcegos de frutas não.
Trocamos um sorriso trêmulo, e foi muito bom. Mas nada mudou. Ainda estávamos metidos numa tremenda confusão e sem nenhum plano claro.
— Por que não dorme? — sugeriu ele. — Você gastou muita energia hoje. Eu fico vigiando até Bastet voltar.
Ele parecia realmente preocupado comigo. Que bonitinho.
Eu não queria dormir. Não queria perder nada. Mas meus olhos estavam realmente muito pesados.
— Tudo bem — concordei. — Não deixe os bichos da cama morderem.
Deitei para dormir, mas minha alma – meu ba – tinha outras ideias.

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