domingo, 25 de janeiro de 2015

A Sombra da Serpente - Sadie

Capítulo 22 - A última valsa (por enquanto)

Ele mudou seu look novamente.
Seus amuletos foram embora, exceto um — o shen que combinava com o meu. Ele usava uma camisa preta que mostrava seus músculos, jeans preto, uma bandeira de couro preta e coturnos – uma espécie de mistura dos estilos de Anúbis e Walt, que o fazia parecer alguém totalmente diferente e novo. No entanto, seus olhos ainda eram bastante familiares, quentes, castanho escuros e encantadores. Quando ele sorriu, meu coração acelerou como sempre.
— Então — eu disse. — Este é outro adeus? Eu já tive muitos por hoje.
— Na verdade — Walt respondeu. — É mais um olá. Meu nome é Walt Stone, sou de Seattle. Eu gostaria de me juntar à festa.
Ele estendeu sua mão, ainda sorrindo maliciosamente. Ele repetiu exatamente o que disse na primeira vez em que nos encontramos, quando ele chegou à Casa do Brooklyn primavera passada.
Em vez de segurar sua mão, soquei seu peito.
— Ow — ele reclamou. Mas duvido que o tenha machucado, ele tinha um peitoral sólido.
— Você acha que pode simplesmente fundir-se com um deus e me surpreender com isto? — intimei. — Ah, a propósito, na verdade eu tenho duas mentes em um corpo. Eu não gostei de ser pega com a guarda baixa.
— Eu tentei te dizer. Anúbis também. Mas continuamos sendo interrompidos. Principalmente por sua tagarelice.
— Não é desculpa! — Eu cruzei os braços e fiz a melhor careta que consegui. — Minha mãe acha que eu devia ser mais fácil com você, já que tudo isso é muito novo para você. Mas eu ainda estou aceitando isso. É bastante confuso, você sabe, gostar de alguém, sem fundir-se em um deus de quem também gosto.
— Então você gosta de mim.
— Pare de tentar me distrair! Você está realmente pedindo para ficar aqui?
Walt assentiu. Ele estava muito perto agora. Cheirava muito bem, como velas de baunilha. Tentei me lembrar se era o cheiro de Walt ou de Anúbis. Mas, honestamente, eu não consegui.
— Eu ainda tenho muito a aprender — ele disse. — Eu não preciso mais ficar fazendo encantamentos. Eu posso fazer uma magia mais intensiva, o caminho de Anúbis.
— Descobrindo novas meios mágicos para me irritar?
Ele inclinou a cabeça.
— Eu posso fazer truques incríveis com linho de múmia. Por exemplo, se alguém falar muito, eu posso convocar uma mordaça.
— Você não se atreveria!
Ele pegou minha mão. Dei-lhe uma carranca desafiadora, mas não puxei minha mão de volta.
— Eu ainda sou Walt — ele disse — e ainda sou mortal. Anúbis pode ficar neste mundo enquanto eu for seu hospedeiro. Estou esperando viver uma longa vida. Nenhum de nós jamais pensou que isso fosse possível. Eu não vou a lugar nenhum, a menos que você queira que eu vá.
Meus olhos provavelmente responderam por mim: não, por favor não, nunca. Mas eu não podia dar-lhe a satisfação de dizer isso em voz alta, poderia? Os meninos podem ficar tão cheios de si.
— Bem — resmunguei. — Suponho que posso tolerar isso.
— Te devo uma dança.
Walt pôs sua outra mão na minha cintura, uma pose tradicional, muito antiga, que Anúbis tinha feito quando valsamos na Academia do Brooklyn. Meu avô teria aprovado.
— Posso? — ele perguntou.
— Aqui? Será que o seu acompanhante Shu não vai te interromper?
— Como eu disse, sou mortal agora. Ele vai nos deixar dançar, embora tenho certeza que está mantendo um olho em nós, se certificando de que nos comportaremos.
— Se certificando de que você se comporte — cortei. — Eu sou uma adequada e jovem senhorita agora.
Walt riu. Supus que foi engraçado. Adequada não seria a primeira palavra usada para me descrever.
Soquei o seu peito novamente, embora admito que não bati muito forte. Eu coloquei minha mão em seu ombro.
— Eu tenho que te lembrar — avisei. — Que meu pai é o seu chefe no Mundo Inferior. É melhor ter boas maneiras.
— Sim, senhora — disse Walt.
Ele se inclinou e me beijou. Toda minha raiva derreteu em meus sapatos.
Nós começamos a dançar. Não havia música, nenhum dançarino fantasmagórico, nada flutuando no ar, nenhuma magia sobre nós. Freak nos observava com curiosidade, sem dúvida se perguntando como esta atividade auxiliaria a produção de perus para alimentação do grifo. O telhado rangia sobre nossos pés. Eu ainda estava muito cansada da longa batalha, e ainda não havia me limpado corretamente. Sem dúvida parecia horrorosa. Eu queria me derreter nos braços de Walt, e foi basicamente o que fiz.
— Então você vai me deixar ficar por aqui? — ele perguntou. — Vai me deixar experimentar uma vida típica de adolescente?
— Suponho que sim — olhei para ele. Não demorou nada para minha visão deslizar pela sua face e ver Anúbis, abaixo da superfície. Mas isso realmente não era necessário. Este era um novo menino na minha frente, e ele era tudo o que eu gostava. — Não que eu seja uma expert, mas há uma regra que tenho de insistir.
— Sim?
— Se alguém te perguntar se você foi escolhido — eu disse. — A resposta é sim.
— Eu acho que posso viver com isso.
— Bom. Porque você não me quer ver zangada.
— Tarde demais.
— Cale a boca e dance.
Nós dançamos com uma música vinda de um psicótico grifo que gritava atrás de nós, e as sirenes e buzinas do Brooklyn gritavam no fundo. Era meio que romântico.
Então aí está.
Nós voltamos para a Casa do Brooklyn. As várias catástrofes que assolavam o mundo tinham diminuído – pelo menos um pouco – e nós estávamos lidando com um influxo de novos iniciados, uma vez que o ano escolar entrava em curso.
Deveria ser óbvio que esta pode ser a nossa última gravação. Nós vamos estar tão ocupados, treinando e frequentando as escolas e vivendo nossas vidas, que duvido que teremos tempo ou razão para enviar quaisquer áudios para ajudar.
Vamos colocar esta fita em uma caixa segura e enviá-la para o cara que está transcrevendo nossas aventuras. Carter parece pensar que o serviço postal conseguirá, mas acho que vou mandar Khufu para transportar pelo Duat. O que poderia dar errado?
Quanto a nós, não acho que nossa vida será apenas diversão e jogos. Amós não deixaria um bando de adolescentes sem supervisão, e como não temos mais Bastet, ele enviou alguns novos adultos para a Casa do Brooklyn como professores (leia-se: acompanhantes). Mas todos nós sabemos quem realmente está no comando, eu. Ah, sim, e talvez um pouco Carter, claro.
Os problemas ainda não acabaram, de qualquer modo. Eu ainda estou preocupada com Setne, o fantasma assassino que anda a solta pelo mundo com sua mente tortuosa, o horrível senso de moda e o livro de Tot. Eu ainda estou quebrando a cabeça com os comentários da minha mãe sobre a magia rival e os outros deuses. Não faço ideia do que isso possa significar, mas não soa nada legal.
Entretanto, ainda existem pontos de magia negra e atividades demoníacas em todo o mundo, com os quais ainda temos que lidar. Ainda temos relatos de magias inexplicáveis como a que cercou Long Island. Provavelmente tenho que verificar isso. Mas, por agora, pretendo desfrutar da vida, irritando meu irmão tanto quanto possível, e também vou fazer de Walt um bom namorado, mantendo as outras garotas longes, provavelmente com um lança-chamas. Meu trabalho nunca acaba.
Quanto a vocês aí fora, que estão ouvindo esta gravação, nunca estamos muito ocupados para novos iniciados. Então você, que tem o sangue dos antigos faraós, o que está esperando? Não deixe sua magia ir para o lixo. A Casa do Brooklyn está aberta para os negócios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário