segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O Trono de Fogo - Carter

Capítulo 14 - Na tumba de Zia Rashid

O SARCÓFAGO ERA FEITO DE ÁGUA.
Era uma figura humana de tamanho grande, com os pés arredondados, ombros largos, e um sorriso enorme na cara, como outros caixões egípcios que eu tinha visto, mas a coisa toda fora esculpida a partir de puro líquido brilhante. Jazia sobre um tablado de pedra no meio de uma câmara quadrada.
Arte egípcia decorava as paredes, mas eu não dei muita atenção a isso. Dentro do sarcófago, Zia Rashid flutuava em vestes brancas. Seus braços estavam cruzados sobre o peito. Em suas mãos ela segurava um cajado curvo e um mangual de guerra, os símbolos de um faraó. Seu cajado e sua varinha flutuavam ao seu lado.
Seus cabelos pretos e curtos estavam flutuando ao redor de seu rosto, e eram tão bonitos quanto eu lembrava. Se você já viu a famosa escultura da rainha Nefertiti, Zia me lembrava dela, com as sobrancelhas levantadas, maçãs do rosto salientes, nariz gracioso e perfeitos lábios vermelhos.
[Sadie diz que eu estou exagerando com a descrição, mas é verdade. Há uma razão Nefertiti ter sido chamada de a mulher mais bonita do mundo.]
Ao me aproximar do sarcófago, a água começou a tremeluzir. Uma corrente desceu pelos lados, traçando o mesmo símbolo novamente e novamente:




Bes fez um som estrondoso em sua garganta.
― Você não me disse que ela era uma deusa menor.
Eu não tinha pensado em mencionar isso, mas é claro que foi por isso que Iskandar tinha escondido Zia. Quando o nosso pai libertou os deuses no British Museum, um deles, a deusa dos rios, Néftis, tinha escolhido Zia como sua hospedeira.
― Esse é o símbolo de Néftis? ― supus.
Bes assentiu.
― Você não disse que essa garota era uma Elemental do Fogo?
― Sim.
― Humpf. Não é uma boa combinação. Não admira que o Sacerdote-leitor Chefe colocou-a em animação suspensa. Um mago do fogo hospedando uma deusa da água... poderia matá-la, a menos... hum, isso foi muito inteligente.
― O quê?
― A combinação de água sobre o fogo também pode mascarar os poderes de Zia. Se Iskandar estava tentando escondê-la de Apófis... ― Seus olhos se arregalaram. ― Santa Mãe Nut. Estes são o cajado e o mangual?
― Sim, eu acho.
Eu não sabia porque ele estava tão chocado.
― Um monte de gente importante não é enterrado com isso?
Bes me deu um olhar incrédulo.
― Você não entende, garoto. Esses são os cajado e mangual originais, os instrumentos reais de Rá.
De repente eu senti como se tivesse engolido uma bola de gude. Eu não acho que poderia ter ficado mais surpreso se Bes tivesse dito A propósito, você está encostado em uma bomba de hidrogênio.
O cajado e o mangual de Rá eram os mais poderosos símbolos do deus mais poderoso do Egito. No entanto, nas mãos de Zia, eles não parecem ser nada de especial. O cajado parecia um bastão de caramelo azul e dourado de tamanho exagerado. O mangual era um pedaço de madeira com três correntes pontudas no final. Eles não brilhavam ou diziam propriedade de Rá.
― Por que eles estariam aqui? ― perguntei.
― Não sei ― disse Bes ― mas são eles. Ouvi dizer que eles foram trancados nos cofres do primeiro Nomo. Só o Sacerdote-leitor Chefe tinha acesso. Eu acho que Iskandar enterrou com sua amiga aqui.
― Para protegê-la?
Bes encolheu os ombros, claramente desconcertado.
― Isso seria como conectar seu sistema de segurança a um míssil nuclear. Um exagero completo. Não admira que o Apófis não tenha sido capaz de atacá-la. Isso é uma proteção séria contra o caos.
― O que acontece se eu acordá-la?
― As magias que a estão protegendo serão quebradas. Pode ser por isso que Apófis o conduziu até aqui. Uma vez fora do sarcófago, ela é um alvo mais fácil. Quanto ao porquê de Apófis querer que ela morra, ou porque Iskandar se deu ao trabalho de guardá-la, eu sei tanto quanto você.
Estudei o rosto de Zia. Durante três meses, eu sonhei em encontrá-la. Agora, eu estava quase com medo de acordá-la. Ao quebrar o feitiço do sono, eu poderia acidentalmente machucá-la, ou deixá-la exposta a um ataque de Apófis.
Mesmo se eu conseguisse, e se ela acordasse e decidisse que me odiava? Eu queria acreditar que ela possuía memórias guardadas em seu shabti, para que ela pudesse recordar os tempos que passamos juntos. Mas se ela não tivesse, eu não tinha certeza se poderia suportar a rejeição. Eu toquei o caixão de água.
― Cuidado, garoto ― alertou Bes.
Energia mágica ondulou através de mim. Foi sutil, como olhar no rosto do demônio da água, mas eu podia sentir os pensamentos de Zia. Ela estava presa em um sonho de afogamento. Ela estava tentando se agarrar à sua última boa memória: a face gentil de Iskandar quando ele colocou o cajado e o mangual em suas mãos: Fique com isso, minha cara. Você vai precisar deles. E não tenha medo. Sonhos não a incomodarão.
Iskandar estava errado. Pesadelos invadiram seu sono. A voz do Apófis sibilou das trevas: eu destruí sua famíliaE estou indo atrás de você.
Zia viu a demolição de sua aldeia de novo e de novo, enquanto Apófis ria, e o espírito de Néftis agitou-se desconfortável dentro dela. A magia de Iskandar tinha prendido a deusa também em um sono encantado e ela tentou proteger Zia, convocando o Nilo para cobrir esta câmara e protegê-las da serpente. Ainda assim, ela não podia parar os sonhos.
Zia estava tendo o mesmo pesadelo caótico durante três meses, e sua sanidade estava desintegrando-se.
― Tenho que libertá-la. Ela está parcialmente consciente.
Bes sugou o ar através dos dentes.
― Isso não deve ser possível, mas se é verdade...
― Ela está em sérios apuros.
Eu afundei minha mão mais fundo no sarcófago. Canalizei o mesmo tipo de magia que eu tinha usado para partir o rio, só que em menor escala. Aos poucos, a água foi perdendo sua forma, derretendo como um cubo de gelo.
Antes que Zia caísse, peguei-a nos meus braços. Ela largou o cajado e o mangual. Seu cajado e varinha caíram no chão. Quando os restos do sarcófago escoaram, os olhos de Zia se abriram. Ela tentava respirar, mas não parecia conseguir.
― Bes, o que há de errado com ela? O que eu faço?
― A deusa ― disse ele. ― O corpo de Zia está rejeitando o espírito de Néftis. Leve-a para o rio!
O rosto de Zia começou a ficar azul. Peguei-a em meus braços e corri com ela pelas escadas escorregadias, o que não foi fácil com Zia chutando e se debatendo todo o caminho.
Consegui passar pela lama sem cair e deitei-a ao lado do rio. Ela arranhou a garganta, os olhos cheios de temor, mas logo que seu corpo tocou no Nilo, uma aura azul tremulou ao seu redor.
Seu rosto voltou à sua cor normal. A água jorrava de sua boca como se ela tivesse se transformado em uma fonte humana. Pensando bem, eu acho que foi muito grosseiro, mas na época estava muito aliviado para pensar nisso.
A partir da superfície do rio, a forma aquosa de uma mulher apareceu em um vestido azul. A maioria dos deuses egípcios enfraquecia em água corrente, mas Néftis era claramente uma exceção. Ela brilhava com o poder. Usava um coroa egípcia de prata nos seus longos cabelos negros. Seu rosto suntuoso me lembrou Ísis, mas essa mulher tinha um suave sorriso e os olhos mais gentis.
― Olá, Bes.
Sua voz era suave e sussurrante, como uma brisa na relva.
― Néftis ― disse o anão. ― Há quanto tempo.
A deusa da água olhou para Zia, que tremia em meus braços, ainda ofegante.
― Lamento por usá-la como hospedeira ― disse Néftis. ― Foi uma má escolha, que quase nos destruiu a ambas. Guarde-a bem, Carter Kane. Ela tem um bom coração e um destino importante.
― Qual destino? ― perguntei. ― Como faço para protegê-la?
Em vez de responder, o espírito de Néftis derreteu-se no Nilo. Bes grunhiu com aprovação.
― O Nilo é o lugar onde ela deveria estar. Essa é sua forma apropriada.
Zia arquejava e se contorcia.
― Ela ainda não pode respirar!
Eu fiz a única coisa que eu conseguia pensar. Tentei reanimação boca-a-boca.
Sim, ok, eu sei como isso soa, mas eu não estava pensando direito.
[Pare de rir, Sadie.]
Honestamente, eu não estava tentando tirar proveito. Eu só estava tentando ajudar. Zia não viu isso dessa forma. Ela me deu um soco forte no peito, e fiz um som como um brinquedo estridente.
Então ela se virou para o lado e vomitou. Eu não acho que a minha respiração era tãoruim assim. Quando ela se concentrou em mim novamente, seus olhos brilhavam com raiva, como nos velhos tempos.
― Não se atreva a me beijar! ― ela conseguiu dizer.
― Eu não estava... eu não...
― Onde está Iskandar? ― ela exigiu. ― Eu pensei... ― Seus olhos perderam o foco. ― Eu tive um sonho que...
Ela começou a tremer.
― Egito Eterno, ele não está... Ele não pode estar...
― Zia...
Eu tentei colocar minha mão no ombro dela, mas ela me empurrou. Ela se virou em direção ao rio e começou a soluçar, com os dedos arranhando a lama. Eu queria ajudá-la. Não aguentava vê-la sofrendo. Mas olhei para Bes, e ele deu uma tapa no próprio nariz sangrento, como um aviso: Vá com calma, ou ela vai te dar um desses.
― Zia, temos muito o que conversar ― falei, tentando não transparecer meu coração partido. ― Vamos levá-la para longe do rio.
Ela sentou-se sobre os degraus de seu próprio túmulo e cruzou os braços. Suas roupas e cabelos estavam começando a secar, mas apesar da noite quente e do vento seco do deserto, ela ainda tremia.
A meu pedido, Bes havia trazido seu cajado e a varinha do túmulo, junto com o cajado e o mangual, mas ele não parecia feliz com isso. Ele lidava com os itens como se fossem tóxicos.
Tentei explicar as coisas para Zia: sobre o shabti, a morte de Iskandar, Desjardins ter se tornado o Sacerdote-leitor Chefe, e o que havia acontecido nos últimos três meses desde a batalha com Set, mas eu não sei quanto ela ouviu. Ela continuou balançando a cabeça, apertando as mãos nos ouvidos.
― Iskandar não pode estar morto ― sua voz estava embargada. ― Ele não teria... ele não teria feito isso comigo.
― Ele estava tentando protegê-la ― falei. ― Ele não sabia que você teria esses pesadelos. Eu tenho procurado por você.
― Por quê? ― Ela exigiu. ― O que você quer de mim? Eu me lembro de você em Londres, mas depois disso...
― Eu conheci seu shabti em Nova York. Ela... você... levou Sadie e eu para o Primeiro Nomo. Você começou o nosso treinamento. Trabalhamos juntos no Novo México, em seguida, na Pirâmide Vermelha.
― Não ― ela fechou os olhos com força. ― Não, não era eu.
― Mas você pode se lembrar do que o shabti fez. Apenas tente...
― Você é um Kane ― ela chorou. ― Vocês são todos foras da lei. E você está aqui comisso.
Ela apontou para Bes.
― Isso tem um nome ― Bes resmungou. ― Estou começando a me perguntar porque eu dirigi por metade do Egito para acordá-la.
― Você é um deus! ― Zia exclamou. Então ela se virou para mim. ― E se você o chamou, vai ser condenado à morte!
― Ouça, menina ― disse Bes. ― Você estava hospedando o espírito de Néftis. Então, se alguém vai ser condenado à morte...
Zia pegou seu cajado.
― Vá embora!
Felizmente, ela não estava de volta à sua força total. Ela conseguiu disparar uma coluna fraca de fogo na cara de Bes, mas o deus anão golpeou facilmente as chamas para o lado. Eu peguei a ponta do seu cajado.
― Zia, pare! Ele não é o inimigo.
― Posso dar um soco nela? ― Bes perguntou. ― Você me deu um soco, criança. Parece justo.
― Sem socos ― falei. ― E sem lançar chamas. Zia, estamos do mesmo lado. O equinócio será iniciado amanhã ao pôr do sol, e Apófis vai sair da sua prisão. Ele quer te destruir. Estamos aqui para salvá-la.
O nome Apófis a atingiu em cheio. Ela lutou para respirar, como se seus pulmões tivessem se enchido de água novamente.
― Não. Não, não é possível. Por que eu deveria acreditar em você?
― Porque... ― eu hesitei.
O que eu poderia dizer? Porque nós tínhamos nos apaixonado um pelo outro, há três meses? Porque nós já passamos por tantas coisas juntos e salvamos a vida um do outro? Essas lembranças não eram dela. Ela lembrou de mim de certa forma. Mas o nosso tempo juntos era como um filme que ela assistiu, com uma atriz fazendo seu papel, fazendo coisas que ela nunca tinha feito.
― Você não me conhece ― ela falou amargamente. ― Agora, vá, antes que eu seja forçada a lutar com você. Eu vou sozinha até o Primeiro Nomo.
― Talvez ela esteja certa, garoto ― disse Bes. ― Devemos sair. Usamos magia aqui suficiente para ativar todos os tipos de alarme.
Cerrei os punhos. Meus piores temores se confirmaram. Zia não gostava de mim. Tudo o que tínhamos partilhado tinha desintegrado com sua réplica de cerâmica. Mas como eu já mencionei, eu sou teimoso quando dizem que eu não posso fazer alguma coisa.
― Eu não vou te deixar ― apontei para as ruínas de sua aldeia. ― Zia, o local foi destruído por Apófis. Não foi um acidente. Não foi culpa do seu pai. A serpente estava mirando em você. Iskandar te ajudou porque sentiu que você tinha um destino importante. Escondeu-a com o cajado do faraó e mangual pela mesma razão, não apenas porque você estava hospedando uma deusa, mas porque ele estava morrendo e teve medo de que não seria mais capaz de protegê-la. Eu não sei o que seu destino é, exatamente, mas...
― Pare! ― Ela reacendeu a ponta de seu cajado. Ele brilhou mais intensamente dessa vez. ― Você está confundindo os meus pensamentos. Você é como os pesadelos.
― Você sabe que eu não sou.
Eu provavelmente deveria ter me calado, mas eu não podia acreditar que Zia iria realmente incinerar-me.
― Antes de morrer, Iskandar percebeu que os velhos métodos tinham que ser trazidos de volta. Por isso que ele deixou Sadie e eu vivos. Os deuses e os magos têm de trabalhar juntos. Você... seu shabti... percebeu isso quando lutamos juntos na Pirâmide Vermelha.
― Garoto ― Bes chamou com mais urgência. ― Nós realmente deveríamos ir.
― Venha com a gente ― falei à Zia. ― Eu sei que você sempre se sentiu sozinha. Você nunca teve ninguém além de Iskandar, mas eu sou seu amigo. Nós podemos protegê-la.
― Ninguém me protege! ― Ela se pôs de pé. ― Eu sou uma escriba da Casa da Vida!
Chamas dispararam de seu cajado. Procurei por minha varinha, mas é claro que eu tinha perdido no rio. Instintivamente minhas mãos se fecharam em torno dos símbolos do faraó, o Cajado de pastor e o mangual de guerra. Segurei-os em um X na defensiva, e o cajado de Zia quebrou-se imediatamente. O fogo se dissipou. Zia cambaleou para trás, fumaça ondulando de suas mãos. Ela olhou para mim em um estado de choque absoluto.
― Você se atreve a usar os símbolos de Rá?
Eu provavelmente parecia surpreso.
― Eu... eu não quis! Eu só quero conversar. Você deve estar com fome. Nós temos água e comida na traseira da caminhonete...
― Carter! ― Bes estava tenso. ― Algo está errado...
Ele se virou tarde demais. Uma luz ofuscante branca explodiu ao redor dele. Quando minha visão voltou ao normal, Bes estava congelado em uma gaiola de barras brilhantes como lâmpadas fluorescentes. Junto com ele estavam as duas pessoas que eu menos queria ver: Michel Desjardins e Vlad, o inalador.
Desjardins parecia ainda mais velho do que eu me lembrava. Seus cabelos grisalhos e barba bifurcada estavam longos e despenteados. Suas vestes de cor creme caíam folgadamente sobre ele. O manto de pele de leopardo do Sacerdote-leitor Chefe estava escorregando de seu ombro esquerdo.
Vlad Menshikov, por outro lado, parecia bem descansado e pronto para um bom jogo de Torture-o-Kane. Ele usava um terno de linho branco fresco e carregava um novo cajado de serpente. Seu colar de prata em forma de cobra brilhava contra o cordão. Em seu cabelo encaracolado cinzento estava um chapéu branco, provavelmente para cobrir as lesões na cabeça que Set lhe dera.
Ele sorriu como se ele estivesse feliz em me ver, o que talvez teria sido convincente – exceto que ele não tinha mais os óculos de sol. No meio das cicatrizes e ferimentos, aqueles horríveis olhos brilhavam de ódio.
― Como eu lhe disse, Sacerdote-leitor Chefe ― Menshikov disse asperamente ― o próximo passo do Kane seria encontrar essa pobre menina e tentar corrompê-la.
― Desjardins, ouça ― eu disse. ― Menshikov é um traidor. Ele convocou Set. Ele está tentando libertar Apófis...
― Você vê? ― Menshikov exclamou. ― Como eu previ, o rapaz tenta por a culpa de sua magia ilegal em mim.
― O quê? Não!
O russo voltou a examinar Bes, que ainda estava congelado em sua jaula brilhante.
― Carter Kane, você afirma ser inocente e, ainda encontramos você aqui confraternizando com os deuses. O que temos aqui? Bes, o anão! Felizmente, o meu avô me ensinou uma magia excelente para prender essa criatura em especial. Meu avô também me ensinou muitas magias de tormento, que foram bastante... Eficazes no deus anão. Eu sempre quis experimentar.
Desjardins torceu o nariz em desagrado, mas eu não poderia dizer se era por minha causa ou de Menshikov.
― Carter Kane ― disse o Sacerdote-leitor Chefe ― eu sabia que você desejava o trono do faraó. Eu sabia que você estava conspirando com Hórus. Mas agora encontro você segurando o cajado e o mangual de Rá, que descobrimos recentemente estarem sumidos de nossos cofres. Mesmo para você, este é um ato imprudente de agressão.
Eu olhei para as armas em minhas mãos.
― Não é assim. Eu só os encontrei... ― parei.
Eu não poderia dizer-lhe que os símbolos tinham sido enterrados com Zia. Mesmo que ele acreditasse em mim, isso podia colocar Zia em apuros. Desjardins assentiu como se eu tivesse confessado. Para minha surpresa, ele parecia um pouco triste com isso.
― Como eu pensei. Amós assegurou-me que você era um servo honroso do Maat. Em vez disso, eu descubro que você é um deus menor um e ladrão.
― Zia ― eu me virei para ela. ― Você tem que ouvir. Você está em perigo. Menshikov está trabalhando para Apófis. Ele vai te matar.
Menshikov fez um bom trabalho em parecer ofendido.
― Por que eu iria querer prejudicá-la? Eu sinto que ela está livre de Néftis agora. Não é culpa dela que a deusa invadiu a sua forma. ― Ele estendeu a mão para Zia. ― Estou contente de vê-la segura, filha. Você não tem culpa da decisão estranha de Iskandar, em seus últimos dias de lhe esconder aqui, suavizando sua atitude para com estes criminosos Kane. Venha para longe do traidor. Venha para casa com a gente.
Zia hesitou.
― Eu tinha... Eu tinha sonhos estranhos...
― Você está confusa ― disse gentilmente Desjardins. ― Isso é natural. Seu shabtitransmitia suas memórias para você. Você viu Carter Kane e sua irmã fazerem um pacto com Set na Pirâmide Vermelha. Ao invés de destruir o Senhor Vermelho, deixaram-no ir. Você se lembra?
Zia me estudou com cautela.
― Lembre-se por que fizemos isso ― implorei. ― O caos está crescendo. Apófis irá se libertar em menos de 24 horas. Zia... eu...
As palavras ficaram presas na minha garganta. Eu queria dizer a ela o quanto eu sentia por ela, mas seus olhos se endureceram como âmbar.
― Eu não conheço você ― ela murmurou. ― Sinto muito.
Menshikov sorriu.
― Claro que não, filha. Você não tem nada com traidores. Agora, com sua permissão senhor Desjardins, vamos levar este jovem herege para o Primeiro Nomo. Onde lhe será dado um julgamento justo.
Menshikov se virou para mim, os olhos arruinados ardendo em triunfo.
― E, em seguida, será executado.

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